Levantamento
do Tribunal de Contas do Distrito Federal identifica computadores obsoletos nas
escolas públicas. No total, 41,7% das máquinas da rede de ensino estão em
manutenção e 79,1% apresentam mais de 10 anos de uso
A
tecnologia é uma aliada importante no processo de aprendizagem. Os professores
que se restringem à tradicional fórmula de livros e quadro-negro têm cada vez
mais dificuldades em manter a atenção dos alunos. Mas, na rede pública de
ensino da capital federal, não há estrutura de informática para que escolas
adotem métodos modernos de educação. Os computadores são obsoletos e não
recebem manutenção. A maioria dos centros educacionais tem internet com
velocidade baixa e, em muitos casos, paga pelos próprios pais e professores. O
deficit tecnológico compromete o ensino e também a gestão. Os sistemas de
tecnologia da informação usados pelas diretorias são falhos e não garantem a
segurança dos dados.
As
constatações fazem parte de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do
Distrito Federal (TCDF) nas escolas públicas, concluída no fim de 2018. Em
decisão unânime neste mês, os conselheiros da Corte deram 30 dias para a
Secretaria de Educação se manifestar sobre as falhas apontadas e apresentar
propostas de correção e melhorias do sistema de tecnologia da informação na
rede pública. No levantamento, os auditores verificaram se os contratos da área
foram executados em conformidade, se o uso dos recursos tecnológicos para fins
educacionais foram suficientemente disponibilizados aos colégios e se as
informações geradas pelos sistemas de gestão escolar e de apoio são
confidenciais, íntegras e disponíveis.
Durante
os trabalhos, os técnicos do TCDF identificaram a defasagem tecnológica. “O
parque de computadores dos laboratórios de informática é obsoleto. A falta de
renovação dos equipamentos instalados nos laboratórios de informática das
escolas públicas do DF compromete a sua utilização e o uso de novas tecnologias
pelo aluno no processo de aprendizagem”, conclui um trecho da auditoria.
Barreiras
Problemas
na internet são uma das principais barreiras tecnológicas do sistema de
educação. O GDF firmou em 2013 um contrato de “fornecimento e implantação de
solução global de comunicação de dados”, com valor anual de R$ 5,7 milhões. Por
causa de problemas de pagamento, a empresa contratada suspendeu os serviços
gradativamente a partir de maio de 2017, culminando com a paralisação completa
da oferta de internet dois meses depois. Em março de 2018, o contrato foi
extinto.
A
interrupção gerou impacto nos serviços administrativos das escolas, pois os
sistemas de gestão das escolas são acessados pela internet. Diante do impasse,
a Secretaria de Educação autorizou as unidades a contratarem serviço de
comunicação de dados com recursos do Programa de Descentralização
Administrativa e Financeira (Pdaf). Mas os diretores enfrentaram dificuldades
burocráticas para contratar o acesso on-line por causa de barreiras para obter
certidões negativas, pela falta de interesse de empresas proverem o serviço,
por empecilhos técnicos em algumas regiões e pelo atraso no repasse da verba do
Pdaf. Para driblar o apagão tecnológico, na maioria dos colégios da rede, a
internet é paga por associações de pais e mestres e pelos próprios professores.
Vaquinha
No
Centro Educacional 6 de Taguatinga, a internet é paga por professores e pelos
pais. A direção também realiza parcerias com a comunidade para suprir
necessidades do colégio. O laboratório de informática recebeu pintura e piso
novo no ano passado, graças a essa ajuda, mas tem máquinas obsoletas que
praticamente inviabilizam qualquer atividade pedagógica. A realidade segue o
padrão identificado pela auditoria do TCDF.
Segundo
o levantamento, 41,7% dos computadores da rede estão em manutenção e 79,1%
apresentam mais de 10 anos de uso. “Infelizmente, devido à falta de estrutura,
não podemos avançar nos projetos. Temos um professor responsável pelas
atividades no laboratório e um educador social voluntário que faz atividades,
ensinando os alunos a fazerem blogs e páginas. Mas nada além disso”, conta o
diretor da escola, Rodrigo Filgueira. A internet contratada pela comunidade é
de 2 Megas mas, na prática, não chega a 1 Mega. Dos 20 computadores comprados
em 2012, só cinco funcionam perfeitamente.
O
professor Humberto Valério dá aulas de informática em uma escola técnica do
Areal e é supervisor do Centro de Ensino Fundamental 1 do Riacho Fundo 2. A
partir de doações, ele ajudou a montar o laboratório. “Mas, hoje, nenhum dos
computadores funciona direito. As máquinas levam meia hora só para ligar.
Alguns professores trabalham com os celulares dos alunos para fazer pesquisas
durante as aulas, por exemplo”, conta Humberto. Para os alunos do EJA, os
prejuízos são grandes. “Os mais novos entendem de tecnologia naturalmente, mas
temos estudantes adultos pedreiros, vigilantes e domésticas que não sabem nem
segurar o mouse. Para essas pessoas, as aulas de informática são uma alegria,
uma descoberta”, diz Humberto.
Promessa de melhora
A
Secretaria de Educação recebeu o relatório de auditoria do TCDF, e os
integrantes da nova gestão não se surpreenderam com os problemas apontados.
“Tudo isso constava dos relatórios diagnósticos feitos na transição. O nosso