quarta-feira, 19 de novembro de 2025

CPI do BRB: Entre o Espetáculo Político e a Seleção de Alvos, Vigilante e Rollemberg Estariam Prontos para Convocar Seus Próprios Aliados?

O Espetáculo da Investigação Seletiva


A tentativa da oposição na Câmara Legislativa do DF (CLDF) de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a fracassada compra do BRB pelo Banco Central reacende um debate crucial: onde termina a legítima fiscalização e começa o puro palanque político?

O fato central é que a operação não se concretizou porque o Banco Central negou a autorização, encerrando tecnicamente o assunto. Apesar disso, figuras como Chico Vigilante (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) insistem na narrativa de um "grande esquema" a ser desvendado, sem, no entanto, apresentarem novas evidências que justifiquem a abertura de uma CPI.

A prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, do Master, serviu de combustível para reacender a retórica oposicionista. A partir daí, construiuse um discurso que tenta, sem base em documentos ou decisões formais, atribuir responsabilidade ao governo Ibaneis por um episódio no qual não teve protagonismo. A impressão que fica é a de uma disputa política travestida de zelo institucional.

A Reabilitação Conveniente de "Paladinos"

O movimento ganhou um contorno peculiar com a tentativa de reabilitar figuras com passado marcado por escândalos, como Agnelo Queiroz e José Roberto Arruda, agora apresentados como bastiões da ética. Esta reavaliação seletiva, que ignora os históricos de ambos, beira a ironia política e levanta questões sobre a genuína motivação por trás do discurso moralizador.

Enquanto isso, o governador Ibaneis Rocha e a vice governadora Celina Leão são alvos sistemáticos de ataques, numa estratégia transparente de criar um ambiente de suspeição e desgaste, ainda que descolada de fatos concretos.

Rollemberg: O Fiscal e Seu Próprio Passado

A participação de Rodrigo Rollemberg como articulador desta CPI cria um paradoxo inescapável. Durante sua própria gestão no governo do DF, o BRB foi alvo de operações da Polícia Federal. Na época, a retórica em favor da transparência foi notavelmente mais tímida. A CPI que se tenta instaurar agora ignora convenientemente esses episódios.

Isso provoca uma reflexão inevitável: Rollemberg estaria disposto a ser convocado como testemunha, caso a investigação fosse verdadeiramente integral e imparcial?

O Teste da Isenção: Até Onde Iriam os Investigadores?

Reportagens da imprensa, como as da Folha de S.Paulo, indicam que as relações do Banco Master se estendem para além de Brasília, envolvendo nomes de expressão nacional, inclusive ligados ao governo federal. Esta abrangência coloca a pergunta central no colo dos proponentes da CPI:

Chico Vigilante e Rodrigo Rollemberg teriam a coragem de convocar todos os envolvidos, incluindo aliados políticos e figuras influentes da esquerda nacional?

Ou a investigação seria seletiva, mirando apenas adversários locais enquanto deixa de lado ligações incômodas que poderiam respingar em seus próprios grupos?

Fiscalização ou "Lacração"? O Risco do Espetáculo

O formato proposto para a CPI sugere que o alvo é menos a apuração dos fatos e mais a produção de conteúdo para redes sociais e discursos inflamados — uma prática típica do ambiente polarizado atual. O risco é transformar uma instituição democrática séria em palco para o que se convencionou chamar de "lacração", onde o foco deixa de ser a verdade para se tornar a construção de narrárias e o desgaste político.

Estratégia Eleitoral, Não Interesse Público

A análise do conjunto de fatos indica que a tentativa de criar uma CPI sobre um negócio que sequer aconteceu tem pouca relação com transparência e muito mais com cálculo político. O que se observa é a instrumentalização de suspeitas, a reescrita conveniente de históricos e o posicionamento de figuras políticas como fiscais da moralidade.

As perguntas que permanecem sem resposta são as que verdadeiramente definem o caráter desta investigação:

·         Por que insistir em vincular o governo Ibaneis a um episódio encerrado por uma decisão técnica do Banco Central?

·         Por que ignorar as investigações passadas no BRB que ocorreram sob a gestão do próprio Rollemberg?

·         Estariam os proponentes realmente dispostos a convocar todos os envolvidos, sem exceções ou blindagens?

Enquanto essas questões não forem respondidas com ações concretas, a CPI do BRB se configurará como mais um capítulo em que o espetáculo político sobrepuja a solidez dos fatos.