quarta-feira, 8 de maio de 2019

Empresas brasileiras perdem R$ 55,3 bilhões com a crise entre EUA e China


Crise entre Estados Unidos e China mantém incertezas no mercado acionário mundial. Ibovespa cai pelo segundo dia consecutivo, derrubando o valor das companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Tendência é de que instabilidade se mantenha

(foto: Brendan Smialowski/AFP)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continuou mexendo com os mercados nesta terça-feira (8/5). O aumento das tensões no cenário internacional com um novo capítulo da guerra comercial fez as bolsas da Europa e dos EUA fecharem no vermelho pelo segundo dia consecutivo. Na Ásia, houve altas e baixas. Tóquio, que estava fechada na véspera, teve retração de 1,51%, e a chinesa Xangai subiu 0,6%.

O Índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador do mercado de ações brasileiros, encerrou ontem com queda de 0,65%, com 94.388 pontos. Ao longo do dia, em meio aos temores de piora no cenário interno com o aumento das tensões entre EUA e China, o Ibovespa chegou a atingir a mínima de 92.749 pontos, recuando 2,38%.

Nesses dois dias, a desvalorização das empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) foi expressiva. Entre sexta-feira e ontem, conforme levantamento feito pela Economática a pedido do Correio, a perda conjunta das empresas listadas na B3 foi de R$ 55,3 bilhões, com os bancos Bradesco, Itaú e Santander na liderança do ranking. Bradesco desvalorizou R$ 10,6 bilhões no período; Itaú, R$ 9,2 bilhões; e Santander, R$ 6,9 bilhões. Em quarto lugar, ficou a Petrobras, cujo valor de mercado foi reduzido em R$ 5,3 bilhões — mais do que o lucro líquido de R$ 4 bilhões registrado no primeiro trimestre de 2019.

As notícias de que a Pequim enviou para Washington um de seus melhores negociadores, o vice-primeiro-ministro chinês, Liu Hue, em busca de um acordo para evitar o aumento de 10% para 25% de US$ 200 bilhões de produtos do país asiático a partir de sexta-feira, deixaram os mercados apreensivos para os próximos dias.

A falta de certeza sobre o desfecho piora o cenário externo e isso pode ser incluído no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será divulgado hoje, segundo analistas. Na reunião anterior, o colegiado retirou o risco externo de seu cenário. Mesmo assim, o consenso é de manutenção na Selic (taxa básica de juros), em 6,5% ao ano.

As apostas são de bastante oscilação nos mercados nos próximos dias. “A tendência é de continuarmos com queda na bolsa, cumprindo a tradição de maio, que não costuma ser um bom mês para o mercado acionário. A volatilidade deve continuar nos mercados externo e interno, porque há fatores que devem influenciar negativamente”, avaliou o economista Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset. Ele lembrou que, no mercado interno, o desempenho do ministro da Economia, Paulo Guedes, na primeira audiência pública da Comissão Especial da Previdência na Câmara, na tarde de hoje, também deve ditar o ritmo da B3.


Câmbio

O dólar continuou valorizando frente ao real, em grande parte, devido às disputas internas do governo Jair Bolsonaro. A divisa norte-americana teve a segunda alta consecutiva da semana e fechou cotada a R$ 3,969, para a venda, uma valorização de 0,29%. Pela manhã, chegou a bater em R$ 4 em meio ao mau humor do mercado. Esse resultado, segundo o economista Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO Corretora, poderia ser pior no câmbio se o país não tivesse as reservas cambiais e os juros baixos. “O câmbio acabou valorizando devido aos especuladores que estão apostando no mercado futuro do que pela fuga de dólares. O investidor estrangeiro não está mais entrando no país. Ele está em compasso de espera, porque o cenário político interno não está positivo”, destacou.

Não à toa, conforme um levantamento da consultoria A.T. Kearney, o Brasil ficou de fora da lista dos 25 melhores países para investir pela primeira vez desde 1998. Na avaliação de Nehme, a B3 foi inflada pelas expectativas após as eleições que não se concretizaram e, enquanto não houver avanços nas reformas estruturais do novo governo, não há como o Ibovespa se sustentar acima de 94 mil pontos. Para ele, Trump está sendo um grande estrategista, porque obrigou os chineses a negociarem um novo acordo que, provavelmente, não será positivo para o Brasil, que exporta commodities.

Fonte: Correio Braziliense