Agentes da Polícia Civil cumpriram, na manhã
desta terça-feira (10/7), quatro mandados de prisão temporária e 12 de busca e
apreensão contra suspeitos
de participar do assassinato do estudante Victor Martins Melo, 16 anos. Em
25 de maio, o adolescente foi espancado até a morte por um grupo de cerca de 20
pessoas, durante uma festa sem alvará no Estacionamento 11 do Parque da Cidade.
O linchamento teria acontecido depois de os agressores acusarem Victor de
roubar o celular de uma adolescente de 16 anos.
A operação — intitulada Thanatus, em
referência à entidade que representa a morte, segundo a mitologia grega —
ocorreu no Paranoá, em Sobradinho 2 e em Samambaia Sul. Três homens, de 20, 23
e 24 anos, e uma mulher de 24 ficarão presos por 30 dias para que a polícia dê
continuidade à apuração do inquérito e colete mais provas relacionadas ao
crime. O tempo de prisão temporária em situação de homicídio pode ser superior
a cinco dias e prorrogado por mais um mês. O caso na 1ª Delegacia de Polícia
(Asa Sul).
A identificação dos quatro suspeitos foi
feita ao longo das investigações e com a ajuda de três denúncias anônimas. A
Polícia Civil também teve acesso a vídeos de celular feitos por pessoas que
estavam no local do crime. Em um deles, dois homens comentam que o linchamento
está acontecendo e diz que a vítima corre o risco de morrer.
Além dos quatro adultos, os agentes averiguam
a participação de nove adolescentes. A maior parte dos envolvidos, segundo a
Polícia Civil, é estudante do Centro de Educação de Jovens e Adultos Asa Sul
(Ceja Cesas), mesma escola que Victor frequentava. Caso seja comprovado o
envolvimento deles no crime, as condutas serão investigadas pela Delegacia da
Criança e do Adolescente (DCA).
Victor
não roubou o celular
Os policiais tentam descobrir, agora, a
dinâmica do fato. Apesar de não haver definição sobre o que aconteceu depois de
o celular da jovem ser roubado, a apuração apontou que Victor
não foi o responsável por tomar o aparelho. Os policiais concluíram que um
amigo de Victor teria roubado o telefone. O suspeito, que também tem 16 anos,
foi encaminhado à DCA.
Paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência (Samu) socorreram a vítima após as agressões, mas o
estudante não resistiu aos ferimentos. Segundo o laudo pericial emitido
pelo Instituto de Medicina Legal (IML), além dos socos, pontapés e garrafadas,
uma facada, desferida contra o coração do adolescente, seria a principal causa
da morte dele.
Outro
vídeo mostra o socorro ao adolescente:
Os investigadores acreditam que a briga tenha
decorrido de disputas entre gangues do Paranoá Parque, região onde mora a
maioria dos suspeitos. Agora, os agentes coletam mais provas na tentativa de
descobrir quem
foi responsável por cada ação. Os quatro maiores de idade detidos poderão responder pelos crimes de homicídio, lesão corporal seguida de morte ou rixa qualificada.
foi responsável por cada ação. Os quatro maiores de idade detidos poderão responder pelos crimes de homicídio, lesão corporal seguida de morte ou rixa qualificada.
Investigação
A causa da morte do adolescente espancado no
Parque da Cidade foi uma facada no peito. Victor Martins Melo, 16 anos, teve
uma hemorragia aguda e não resistiu. Agentes da 1ª Delegacia de Polícia (Asa
Sul) agora tentam identificar quem deu o golpe fatal na vítima.
Segundo o delegado adjunto da 1ª DP, Ataliba
Neto, os suspeitos passarão por identificação de outras testemunhas para
reforçar se eles tiveram alguma participação no caso. "Essa prisão é
imprescindível para nós conseguirmos avançar na investigação. Temos a
informação de que um deles seria o autor da facada, mas queremos confirmar quem
de fato deu o golpe que tirou a vida do Victor", ressaltou.
Além dos quatro presos, os agentes cumpriram
nove mandados de busca e apreensão na casa de nove adolescentes, oito homens e
uma menina, para tentar encontrar os pertences de Victor. "Nas buscas,
encontramos algumas armas brancas que vamos tentar identificar se foram usadas
no crime. Ainda vamos analisar os materiais. Se for constatado algum envolvimento
de um adolescente, essa parte será separada e remetida a DCA",
ressaltou.
Segundo Ataliba, em depoimento os quatro
jovens presos negaram qualquer envolvimento no crime. A Polícia está com dois
vídeos que mostram as agressões. Em um deles, mesmo com a vítima caída e
rendida, uma menina grita e pergunta "cadê o celular?". Em outra
imagem, um homem se revolta e esbraveja: "que covardia".
O delegado explicou que todos os presos serão
indiciados por homicídio e quando for identificado o responsável pelo golpe
fatal em Victor, ele será autuado como autor.
Como
denunciar
Quem tiver mais informações sobre o caso pode
entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 197 ou presencialmente, na
1ª Delegacia de Polícia. O sigilo é assegurado aos denunciantes.
Entenda
o caso
Intitulada Cala a Boca e me Beija, a festa
que culminou na barbárie teve início às 14h de um sábado e ocorreu no
estacionamento público em frente ao Carrera Kart, sem a presença de seguranças,
policiais ou socorristas. Victor saiu de casa, no Setor de Chácaras do Lago
Norte, pouco antes das 16h. Após a briga, ele foi achado caído, ensanguentado,
com marcas de violência e com a camiseta furada, rasgada e suja. Os agressores
levaram a carteira, o celular, os tênis e a bermuda do jovem.
Morador
da zona rural do Lago Norte, ele não tinha passagens pela polícia. Os
agentes consideraram contraditórias as informações prestadas pelas testemunhas
em função de a maior parte delas estar sob efeito de álcool no momento do
crime. A vítima do roubo afirmou à polícia que estava com amigos reunidos em
uma roda, com o celular nas mãos, quando um desconhecido avançou para pegar o
aparelho. Ela teria resistido, enquanto outra pessoa a teria agarrado por trás
e o suspeito de pegar o telefone teria fugido.
Com as provas coletadas, a polícia averiguou
que Victor foi à festa acompanhado de seis ou sete amigos, incluindo o
adolescente responsável pelo roubo. Alguns deles tinham a intenção de praticar
furtos a celulares, mas, de acordo com as investigações, Victor não sabia do
fato. Durante os depoimentos, nenhuma testemunha apontou o estudante como o
autor do crime.
Como os divulgadores da festa não tinham
autorização para fazer o evento em espaço público, eles podem responder pelo
caso no âmbito da Justiça cível. Uma das pessoas apontada como organizadora
negou qualquer envolvimento com a confraternização. Responsável pela gestão do
Parque da Cidade, a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal
confirmou que o encontro não tinha permissão pública, mas não explicou por que
ele durou ao menos quatro horas. A pasta informou à reportagem que acionou a
Polícia Militar assim que soube da festa. Contudo, quando a primeira equipe da
PM chegou ao local, o linchamento havia acontecido.
Fonte: Correio Braziliense