segunda-feira, 16 de março de 2015

Agnelo acusa sucessor de utilizar táticas nazistas da mentira para destruí-lo

Agnelo aproveita o período de quarentena para estudar inglês em Miami
O ex-governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) acusou seu sucessor Rodrigo Rollemberg (PSB) de usar “táticas nazistas” para acabar com sua imagem e de ter uma visão miúda e mesquinha de gestão pública. Além disso, chamou Rollemberg de inoperante. “Quem governa é o Hélio Doyle (chefe da Casa Civil)”.
O desabafo de Agnelo foi feito durante entrevista à revista Veja Brasília que circula nesta final de semana, e sobrou também para um dos seus principais críticos, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que, segundo ele, participou das negociações para definir o aumento aos servidores e agora faz “o jogo do contra”. O ex-governador ainda se disse “revoltado” com a postura do presidente do Tribunal de Contas do DF, Renato Rainha, que “usa a corte como palanque para a campanha de 2018”.
Agnelo revelou haver deixado R$ 1 bilhão em caixa quando saiu do governo. “Se o GDF não tinha verba, como pode ter quitado integralmente o salário dos servidores depois da determinação judicial? Brotou dinheiro?”. Ele sustenta que a crise na
cidade foi fabricada pelos inimigos.
O ex-governador está em Miami há dois mese com a mulher fazendo uma imersão em inglês, e promete retornar a brasília no final de abril.
Confira a entrevista do ex-governador do Distrito Federal a Lilian Tahan, de Veja:
O atual governo afirma que sua administração deixou um rombo nas contas públicas de 4 bilhões de reais. O senhor foi irresponsável?
Essa é a primeira grande mentira de Rollemberg. Deixei 1 bilhão de reais em caixa quando saí. O governo dele disse que só tinha 67 000 reais na conta. Os dados oficiais provam que isso é mentira. O GDF tem 55 contas, entre o BRB, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Eles mostraram só o que interessava. Quando a Justiça, recentemente, obrigou o GDF a pagar os servidores sem fatiar salários e o governador cumpriu a medida, ficou claro que se tratava de uma farsa, que a verba estava em caixa. Ou eles fizeram o dinheiro brotar?
O senhor também não convenceu o Tribunal de Contas nem o Ministério Público sobre a sanidade das finanças de seu governo. Trata-se de um complô?
O governo de Rollemberg se vale de táticas nazistas na tentativa de me destruir. Repete uma mentira mil vezes para ver se ela vira verdade. Alega que eu deixei dívidas a partir de cálculos sobre compromissos futuros do governo. Isso é um absurdo contábil, mas alguns setores sérios da sociedade chegaram a acreditar. Dos mais de 100 000 servidores, 9 000 faziam aniversário em dezembro e deveriam receber o 13º salário no mês subsequente, em 5 de janeiro. É um dos casos em que não se pode falar em atraso. No ano passado, tivemos dificuldade de fechamento de contas, como no resto do Brasil. A diferença é que perdi a eleição e houve uma descontinuidade. Para Rollemberg, a campanha não acabou. Ele não desceu do palanque. Rollemberg, não. O governador Hélio Doyle, porque quem governa é o Hélio. Ele também organiza as mentiras e as passa para a população. Brasília vive uma crise fabricada.
O senhor é réu em duas ações que bloquearam seus bens e contas. Acha que terá condições de provar sua inocência?
Em uma dessas ações, o MP alegou que a inauguração do Centro Administrativo foi um capricho, por ter sido realizada no final do governo. Mas eu estava em pleno exercício do meu mandato popular e soberano. E todos os pressupostos estavam em dia. Se eu não emitisse o habite-se, aí, sim, teria de responder. Cumpri minha obrigação. Entreguei um prédio fundamental para melhorar a rotina da população.
Mas entregou de maneira precária, sem móveis, por exemplo.
E no Mané Garrincha? Há móveis e computadores? Transformar o estádio em centro administrativo tendo um espaço apropriado para o funcionamento da burocracia é um disparate. Um governo que entra não pode destruir tudo o que seu antecessor fez para alimentar um revanchismo ignorante.
O senhor investiu tempo e verba pública para trazer a Universíade e a Fórmula Indy a Brasília. O atual governo o acusa de não ter deixado dinheiro para a realização dos projetos. Quem vai pagar essa conta?
Cancelar essas parcerias depois do esforço gigantesco que fizemos para colocar Brasília no calendário internacional é um crime contra a cidade. Os eventos movimentam hotéis, táxis, lojas, toda a cadeia produtiva do turismo, geram emprego e renda. Só a Fórmula Indy deixaria 100 milhões de reais na cidade. Sem falar que a atitude irresponsável do cancelamento compromete a imagem do DF. Brasília vai levar décadas para recuperar a confiança internacional, além de ter de arcar com uma indenização milionária. Esse governo é mesquinho, tem uma visão pequena da capital do país. Achar que todo o esforço de cooperação internacional era para justificar viagens ao exterior mostra uma compreensão miúda da gestão pública.
Poucos meses após ter deixado o governo, o senhor já responde a nove ações de improbidade, a maior parte delas por nepotismo. Faltou atenção à lei que proíbe o emprego de parentes no governo?
Fui eu que fiz essa lei. Temos hoje uma legislação de transparência que é invejável. Mas é que um governador assina muitas nomeações e, nessas situações, foram parentes em áreas diferentes do governo. Assim que tomei conhecimento, pelo próprio MP, mandei demitir um dos familiares. Mas, convenhamos, estamos falando de meia dúzia de casos em um universo de mais de 100 000 servidores. Dê uma olhada no governo Rollemberg. O presidente da Caesb e o diretor do DER são irmãos, os Ludovice.
O senhor passou quatro anos à frente do governo, seis meses como interventor da saúde. Hoje se sentiria seguro em indicar tratamento em um hospital público do DF para algum parente seu?
Não só tenho coragem como fui atendido no HRT (Hospital Regional de Taguatinga) quando machuquei a perna em um acidente de moto.
O senhor tinha a prerrogativa do cargo. Dramático é para a dona Maria e o seu Francisco, não?
No meu governo, melhoramos o atendimento nas emergências, criei a sala vermelha. O Hospital de Base é referência no atendimento dos casos mais graves. Investimos 5,6 bilhões de reais nessa área, o maior aporte entre todos os estados. Recuperei a emergência do HRT, do HRP (Planaltina), fiz seis UPAs, nove clínicas da família, coloquei o Hospital da Criança para funcionar. Contratei 14 000 profissionais de saúde e melhorei o salário dos servidores, não só os da saúde. Todos os aumentos foram calculados com base na média de arrecadação do DF. Dei conta de pagar de 2011 a 2014. Por que agora esse governo diz que não pode honrar os compromissos? Porque tem prioridades diferentes e manipulou quanto pôde para tirar um direito adquirido pelos funcionários. E o mais triste é que políticos que sentaram comigo para negociar esse aumento hoje fazem o jogo do contra.
De quem o senhor está falando?
Cristovam Buarque, por exemplo.
Os amigos o tratam carinhosamente por Magrão, dizem que tem abraço de urso. Os adversários o chamam de Agnulo e dizem que no GDF o senhor esteve mais para bicho-preguiça. Como se autoavalia?
Os adversários estão no papel deles, desde que assumi tentam me desconstruir. Quem me conhece sabe do meu ritmo. Trabalho até dezoito horas por dia se for preciso. Mas esse é o tipo de pergunta que só as comparações vão responder. Quero ver no final do governo quem fez mais UPAs, escolas, asfalto.
O senhor diz que seus inimigos políticos tentam destruí-lo, mas foram os eleitores que não o levaram nem ao segundo turno, patamar que até dona Weslian alcançou em 2010. Não lhe  faltou carisma?
Fui vítima de um aspecto conjuntural, de ataques permanentes ao meu governo. Não consegui mostrar tudo o que fiz. Na campanha, os adversários tiveram a cara de pau de negar obras físicas que construí, que estão aí para quem quiser ver. Além disso, enfrentei grupos poderosos, cartéis, e isso gera muitos inimigos. Paguei com o preço da popularidade.
Se não for impedido pela Justiça, pretende voltar à política?
Meu objetivo hoje é fazer a minha defesa, mostrar as realizações do meu governo. Não estou pensando em candidatura coisíssima nenhuma. Só não vou aceitar que uma carreira respeitada seja alvo de ataques rasteiros.
O senhor já pilotou o avião chamado Brasília, mas, em janeiro, foi visto indo para Miami espremido na classe econômica. O poder deixou saudade?
Em absoluto. Nunca me contaminei por posições. Tenho vida simples, tive no mandato inteiro e vou continuar assim. A melhor maneira de conhecer uma pessoa é dar poder a ela. Veja o Rollemberg. Acusou-me de ter feito uma reforma desnecessária em Águas Claras, disse que não usaria o espaço e agora está despachando de lá. Segundo eu soube, até elogiou as acomodações. Mas falar uma coisa e fazer outra parece que tem se tornado a marca dele. Prometeu fazer a eleição de administrador e não fez. Disse que iria radicalizar na transparência e acabou com a secretaria. Prometeu cortar comissionados e aumentou o salário desses cargos. Comprometeu-se a liberar a senha do Siggo e, até agora, nada. E foi pedir conselhos a Roriz. Isso não tem cabimento para um político que se diz mais alinhado à esquerda.
Como tem sido sua rotina em Miami?
Não tenho uma rotina muito fixa. Mas, basicamente, vou de bicicleta à escola de inglês, que fica a uns 6 quilômetros de casa, e passo o dia lá. Não voltei a correr porque ainda preciso de fisioterapia para o joelho. Ele não está 100%. Como não temos secretária lá, dividimos as tarefas. Às vezes eu cozinho, às vezes é a Ilza (ex-primeira-dama). É uma vida nada fora dos padrões.
Quando retorna a Brasília?
No fim de abril. A ideia era aproveitar minha licença-prêmio como médico para ficar afastado por pelo menos 100 dias, deixar o governador à vontade, sem ficar emitindo opiniões. Acabei revendo essa decisão para reagir ao massacre que ele tem feito à minha imagem. Portanto, em breve voltarei às minhas atividades como cidadão, para me defender contra essas injustiças, sobretudo perante os órgãos competentes. Tenho confiança na lucidez do Judiciário. Agora, fico revoltado quando vejo o presidente de um Tribunal de Contas (Renato Rainha) fazendo pré-julgamento, falando pelos conselheiros, usando o cargo como palanque eleitoral.
Por que esta entrevista está sendo feita em São Paulo? O senhor está constrangido de aparecer em Brasília? Tem medo de ser agredido?
Em absoluto. Eu tinha questões pessoais para resolver aqui, só isso. Sei que vai levar um tempo, mas as pessoas um dia ainda vão reconhecer tudo o que fiz por Brasília.

Fonte: Diário do Poder