Eis o que Jânio disse --e eu assino embaixo-- em
sua coluna dominical, cuja íntegra pode ser lida abaixo
Jânio de Freitas é um jornalista veterano (82
anos) que, após passar pela revista Manchete e pelo Jornal do Brasil (RJ),
integrou uma equipe de redação lendária do Correio da Manhã (RJ) nos anos 60.
Passou
depois pela Última Hora (RJ) e pelo Jornal dos Sports, ingressando na Folha de
S. Paulo em 1980. Sua coluna política, lançada em 1983, subsiste até hoje...
Não esconde
sua simpatia pelo Partido dos Trabalhadores, mas é um profissional honesto, à
moda antiga: não deixa de bater pesado no PT, quando o partido faz opções
incoerentes com seus valores e sua história, como a anunciada transformação do
Ministério da Agricultura em Ministério da Promoção do Agronegócio
Predatório
(pois esta será, na prática, a consequência de ter a ruralista Kátia Abreu como
à sua frente).
Leia abaixo
o que ele diz:
O primeiro
passo
A escolha de
Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, vista de fora, é uma decisão
política, não econômica. Faz supor uma escolha de Dilma Rousseff por temor da
voracidade com que os conservadores ambicionam a retomada do Poder perdido.
Presenteia-os, parece, na suposição de aplacá-los.
De fora,
ainda não há como saber –e muito menos crer– de algum entendimento prévio sobre
linha de política econômica que possa tornar a escolha mais inteligível. Seja
como for, coerente com o sentido da campanha de Dilma, não é.
A escolha
não tem coerência nem com o momento em que é feita. Na manhã mesma em que fez
uma reunião para definir a escolha, liberada não oficialmente à tarde, o
caderno "mercado2" da Folha apresentava como manchete:
"Desemprego recua em outubro e atinge 4,7%; renda bate recorde". A
seção "Economia" do "Globo", com uma nota na primeira
página, também dava como manchete: "Emprego em alta, renda recorde".
Aos dois
jornais não faltaram, claro, o "mas" e o "apesar de". Ainda
assim, das manchetes pode-se entender que a economia esteja mais para o
massacrado Guido Mantega do que para o Joaquim Levy que bem poderia ser
ministro em um governo de Aécio Neves.
O histórico
de Joaquim Levy não deixa dúvida sobre o seu conservadorismo, posto em prática
evidente ao menos desde que foi secretário de Assuntos Econômicos do Ministério
do Planejamento no governo Fernando Henrique. Conservadorismo confirmado no
governo Lula, quando foi um dos inspiradores da política econômica que
consagrou Antonio Palocci nos setores do domínio financeiro. E conservadorismo
consolidado como secretário do Tesouro, quando Levy foi o ponto de resistência
a gastos e outras medidas de linha social pretendidas no governo Lula.
Caso o
histórico não baste, o presente garante: se não fosse adepto de concepções do
conservadorismo neoliberal, Joaquim Levy não seria diretor do Bradesco. O que
prova não se tratar, até agora, de pessoa incoerente.
Também sem
comunicação oficial quando escrevo, a apontada indicação da senadora Kátia
Abreu para a Agricultura sugere, ou confirma, uma disposição incomum de Dilma
Rousseff para incrementar problemas com as correntes não conservadoras. A
senadora exerce com muita competência a liderança do agronegócio e dos grandes
proprietários de terra. Mas nem todos os interesses que defende coincidem com o
que deveriam ser objetivos do governo, de todo governo.
Dilma
Rousseff entra no segundo mandato devendo muito para reparar os desempenhos
deploráveis do seu governo em três capítulos da desgraça nacional: o problema
indígena, sem as demarcações territoriais devidas e com o genocídio em
progressão; a questão fundiária em geral, com imensos territórios tomados e
explorados; e, ainda e sempre, a reforma agrária, pendente de correções e de
avanços. Três assuntos em que o responsável pela Agricultura tem deveres e
poderes muito grandes. Três assuntos em que os interesses representados pela
senadora Kátia Abreu conflitam, em todos os sentidos desta palavra, com as
vítimas e com as obrigações e as dívidas administrativas e sociais do governo
Dilma.
O primeiro
movimento para o novo governo parece feito em marcha a ré.
Fonte: Portal Gama Livre
/ Do Blog Náufrago da Utopia - Por Celso Lungaretti / Blog Edson Sombra -
23/11/2014 - - 11:38:06