BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff (PT) está
longe de ser a única candidata nas eleições deste ano a declarar manter
elevadas quantias de dinheiro em casa. Além de Dilma, dois outros candidatos à
Presidência e pelo menos 14 candidatos a governos estaduais também informaram o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao registrarem suas candidaturas, manter
dinheiro em espécie. Entre os presidenciáveis, o candidato do PRTB, Levy
Fidelix, diz manter R$ 140 mil, e o candidato do PSDC, José Maria Eymael,
declarou que ele e a mulher têm R$ 2 mil.
A Justiça Eleitoral ainda não disponibilizou os dados
de todos os candidatos ao governo — nove unidades da federação, entre elas
Minas Gerais e São Paulo, não tinham qualquer registro revelado até a noite de
ontem —, mas um levantamento
feito pelo GLOBO nos dados disponíveis até agora
mostra que ao menos 14 candidatos a governador também informaram ter dinheiro
em espécie.
MONTANTES DE Até
R$ 650 MIL
O que declara maior montante é o candidato ao governo
do Acre pelo PSDB, deputado Márcio Bittar, que informa ter R$ 651.900. No
Tocantins, o candidato ao governo pelo Solidariedade, Sandoval Cardoso,
registrou R$ 460 mil “em poder do declarante”. Em Roraima, o candidato do PSB
ao governo, Chico Rodrigues, declarou ter R$ 455 mil em “numerário em cofre
particular”. O ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria Armando
Monteiro (PTB), que disputa o governo de Pernambuco, informou ter R$ 250 mil em
seu poder.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga,
candidato do PMDB ao governo do Amazonas, declarou ter R$ 140 mil em moeda
nacional e R$ 25 mil em moeda estrangeira. Seu concorrente pelo PROS, José
Melo, diz ter R$ 220 mil em espécie. Em Santa Catarina, três candidatos ao
governo declararam posse de dinheiro em moeda: Claudio Vignatti (PT), com R$
190 mil, Paulo Bauer (PSDB), com R$ 75 mil, e Janaina Deitos (PPL), com R$ 5
mil.
No Mato Grosso do Sul, o candidato do PMDB, Nelsinho
Trad, disse ter R$ 100 mil em espécie e, no Mato Grosso, o senador Pedro Taques
(PDT), que concorre ao governo, informou ter R$ 35 mil. Candidato tucano ao
governo do Pará, o ex-governador do estado Simão Jatene declarou ter em casa R$
34 mil e o candidato do PSL ao governo do Rio Grande do Norte, Araken, R$
21.450. Em Alagoas, Eduardo Mendes (PSDB) disse ter R$ 10 mil em espécie.
PERDA DE R$ 34
MIL
Esse tipo de declaração, no entanto, chama a atenção
de economistas, pois implica em perda elevada de ganhos. No caso da presidente
Dilma, só nos últimos quatro anos ela abriu mão de receber pelo menos R$ 34 mil
em correção. Em 2010, na primeira vez que disputou a Presidência, ela informou ter
R$ 113.300 em espécie. Caso tivesse colocado esse montante na poupança, o
investimento conservador mais popular no país, teria hoje R$ 147.600 — 30% a
mais. Apesar disso, a presidente optou por aumentar o numerário guardado em
casa ao longo dos quatro anos de governo e informou agora ter R$ 152 mil em
espécie. Segundo sua assessoria, o dinheiro estaria guardado para ser usado em
viagens.
Mas, se o valor tivesse sido aplicado em um título
corrigido pela taxa básica de juros (Selic), ele teria rendido 44,6% e chegado
a R$ 163,9 mil nesse mesmo período. O rendimento poderia ter sido ainda maior
em aplicações como o Tesouro Direto, na avaliação do professor de Economia da
Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli:
— Guardar o dinheiro em casa é uma opção muito
conservadora e não parece ser a forma mais eficiente de usar o recurso.
Sérgio Bessa, professor de Finanças da FGV no Rio,
avalia que declarar dinheiro em espécie em casa, por capricho ou desleixo, abre
brecha para interpretações.
— Dinheiro em conta corrente, poupança e aplicação
têm extrato. Dinheiro em espécie, não. E ninguém vai lá conferir se tem ou não.
No caso da presidente, como o principal executivo não confia no sistema
financeiro nacional? — disse Bessa.
Fonte: o Globo