sábado, 7 de dezembro de 2013

Brasilia prestes a ser estuprada

Crônica da Cidade

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A audiência pública realizada ontem no Senado para debater o PPCub  trouxe  algum  alento aos defensores do tombamento. Maria Elisa Costa, que assistiu aos debates, pela tevê, foi tomada pela tristeza. ...

A ela, ficou a impressão de que tanto o Iphan quanto o GDF — os que têm “a faca e o queijo na mão” — não pactuam com as críticas que vêm sendo feitas pelos movimentos em defesa do tombamento. Pelo entendimento de Maria Elisa, Iphan e GDF não consideram que a área tombada deva ser protegida em seu traçado original.

A audiência pública no Senado começou com um derrame de emoções históricas. A voz de Lucio Costa ecoou na sala. Era seu discurso proferido durante um seminário sobre a cidade, realizado em 1974, no qual ele comparou a Esplanada a um braço estendido e, a palma da mão, “os Três Poderes são oferecidos ao povo”. A ideia, diz o
arquiteto, é simbólica, “algo romântica como estão vendo, essa ideia é uma das características do plano de Brasília.”

O senador Rodrigo Rollemberg abriu os trabalhos marcando posição: “Não me parece (o PPCub) um plano com características de preservação e (sim) mais um plano com propostas de adensamento, que vão ter profundas consequências na própria concepção urbanísticas de Brasília e nas quatro escalas que compõem o tombamento de Brasília.”

Seguiu-se o que, pelas notas taquigráficas a que tive acesso, um diálogo de surdos — de um lado o GDF e o Iphan, e de outro os críticos do projeto em tramitação na Câmara Legislativa. O que deu pra escutar foi que o governo está evidentemente disposto a adensar o Plano Piloto, mas, em algumas áreas, essa proposta tem razões urbanas razoáveis. Por exemplo, na tentativa de reduzir a setorização rígida da cidade e no modo de ordenar as 600, 700 e 900, quadras não previstas no plano original.

A presidente do Iphan nacional, Jurema Machado, refutou as acusações de omissão do instituto e atribuiu a timidez nas ações ao emaranhado normativo das leis de proteção a Brasília e à dimensão dos problemas da cidade.

Em seguida, a arquiteta Vera Ramos detalhou o minucioso dossiê que fez do PPCub apontando, mais uma vez, as evidentes alterações na área tombada propostas pelo texto em discussão. O senador Cristovam Buarque disse ter a impressão, pelo conteúdo do PPCub, que “Brasília está à venda”.

Benny Schvarsberg, professor de arquitetura da UnB, cutucou o núcleo da ferida: “(Brasília) é uma cidade inacabada, com uma quantidade ainda razoavelmente expressiva de áreas e lotes vazios, mas a lógica da acumulação capitalista é a lógica da cidade como mercadoria, a lógica em que, necessariamente, novas frentes imobiliárias precisam ser produzidas.”

Como resultado imediato, surgiu o esboço de uma comissão formada pela sociedade civil, como recomenda a Unesco, para acompanhar o PPCub.


Fonte: Redação do Blog Edson Sombra com informações do Correio Braziliense - 06/12/2013