terça-feira, 20 de agosto de 2013

GDF vai pedir à Justiça acesso a dados sobre suposto cartel no Metrô

Secretaria de Transparência quer informações sobre documentos do Cade. Há 15 dias, Metrô-DF também pediu acesso a dados sobre denúncias.


(Foto: Editoria de Arte / G1)
A Secretaria de Transparência do Distrito Federal anunciou nesta segunda-feira (19) que vai pedir autorização à Justiça para acessar as provas e documentos de posse do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre as denúncias de suposta combinação de preços e formação de consórcio entre empresas que fazem a manutenção do Metrô do Distrito Federal.

Segundo a secretaria, as informações vão permitir à pasta aprofundar a auditoria realizada em 2011 sobre o contrato de manutenção do Metrô-DF. O GDF informou que o relatório feito há dois anos apontou irregularidades na licitação e na execução do contrato.

A secretária de Transparência, Vânia Vieira, afirmou que a partir dos dados do Cade será possível identificar se houve envolvimento de servidores do GDF nas irregularidades e instaurar possíveis processos para apurar as responsabilidades.

Segundo a secretaria, as provas também poderão ajudar na instauração de possíveis processos contra as empresas “para à restituição dos recursos eventualmente desviados ou superfaturados”.

Entre os problemas apontados pela auditoria da Secretaria de Transparência estão o pagamento de valores maiores às empresas, entrega de peças e materiais de manutenção em quantidade inferior ao contratado e pago pelo Metrô-DF e perdão injustificado de multas impostas às integrantes do consórcio por não cumprimento de ordens de serviço.

O Metrô-DF informou que a auditoria da secretaria não é a mesma realizada pela companhia, também em 2011. A empresa disse o corpo técnico do Metrô enviou ao Tribunal de Contas as justificativas para os indícios de irregularidades apontados pela Transparência.

No último dia 7 de agosto, a presidente do Metrô-DF, Ivelise Longhi, disse que a companhia realiza auditorias todos os anos, que a empresa tem um sistema de controle de todas as notas fiscais envolvendo serviços e que nenhuma irregularidade foi encontrada, apenas “problemas pontuais de procedimento”.

Ela citou como exemplo o não cumprimento de ordens de serviço, no prazo estipulado por contrato de 60 dias, por falta de peças. Segundo Ivelise, a compra desses itens é de responsabilidade da companhia. A dificuldade em comprar o material acontece porque os trens são antigos, segundo a diretora da empresa.

“Quando se fez o contrato lá no passado se colocou isso, que a as peças sobressalentes seriam por conta do Metrô. Agora a gente está pensando diferente. Talvez, em um contrato novo a gente ponha a peça [como responsabilidade da empresa]. No passado se julgou necessário isso. A gente não pode culpar a empresa por uma coisa que seria nossa", afirma a presidente do Metrô-DF.

Na mesma ocasião, Ivelisse anunciou que pediu ao Cade uma cópia do processo que apura a suposta combinação de preços e formação de consórcio entre empresas que
fazem a manutenção das linhas do Distrito Federal e de São Paulo.

O Cade informou que o inquérito administrativo que apura o caso é sigiloso e que a lliberação de documentos depende da Justiça

Na última segunda (5), um pedido semelhante, feito pelo governo de São Paulo, foi rejeitado pela Justiça Federal de Brasília.

No último dia 5, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo entrou com um recurso no TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região para lacrar parte dos documentos apreendidos pelo Cade que estariam sob sigilo advogado-cliente no processo que apura o envolvimento de empresas em um suposto cartel em licitações do Metrô e da CPTM. O pedido deve ser decidido nos próximos dias.

O custo do serviço de manutenção do Metrô no DF está compatível com valores de mercado, segundo a presidente. O contrato assinado em 2008 termina em setembro, quando deve ser lançado novo edital para contratar nova empresa de manutenção.

Ivelise diz que a companhia tem um sistema de controle de todas as notas fiscais envolvendo serviços do Metrô e que auditorias sobre os contratos em execução são realizadas anualmente. Segundo ela, nenhuma irregularidade foi encontrada nas auditorias.

Desde 2007, o serviço no DF é feito pelo consórcio Metroman, formado pela Siemens e Serveng-Civilsan, ambas suspeitas de participarem do conluio para combinar preços para o serviço.

Um relatório do Cade baseado em depoimentos de seis executivos da empresa alemã Siemens revela que o esquema ocorreu entre 1998 e 2007, durante os governos de Joaquim Roriz, então no PMDB, e de José Roberto Arruda, à época no DEM.

O advogado de Arruda disse que a apresentação das propostas foi feita no goveno anterior, durante o governo de Joaquim Roriz. O ex-governador Roriz disse que desconhece a denúncia.
A assessoria da Serveng-Civilsan informou que a atuação da empresa é pautada no cumprimento à lei e que vai prestar todos os esclarecimentos ao Cade. O GDF disse que o governo vai colaborar com o Cade, mas que ainda não conhece detalhes do processo.

Segundo o Portal da Transparência do GDF, entre 2009 e 2012, o Metrô gastou R$ 645,7 milhões em manutenção com o consórcio Metroman. O custo é 250% mais alto do que o gasto pelo Metrô do Rio de Janeiro, onde o número de passageiros é quatro vezes maior. A empresa ganhou a licitação em 2007.

Há um mês, documentos foram apreendidos na sede do consórcio Metroman, no SIA. A apreensão foi feita com autorização da Justiça Federal de São Paulo.

O Cade relata que empresas faziam reuniões secretas para dividir projetos e acertar que não haveria competição entre elas. De acordo com relatório do conselho, durante apresentação da Siemens para executivos concorrentes, um slide foi exibido com a frase: “Consórcio combinado, então é muito bom para todos os participantes”.

O Cade relata também que houve a tentativa de combinar e vincular licitações do Metrô de SP e do DF. A investigação cita a ligação, de janeiro de 2006, entre executivos de duas empresas.

Segundo o Cade, um deles perguntou se uma possível subcontratação na linha 4 do Metrô de SP dependeria de acordo com o Metrô do DF. O outro executivo confirmou que os dois acordos deveriam ser negociados concomitantemente.

A juíza disse que o consórcio Metrô Planalto e Metroman dividiram o objeto da licitação, através da subcontratação do perdedor, sem prévia negociação de quem seria o vencedor.

Entenda o caso
A investigação ocorre desde 2008, mas ganhou visibilidade neste mês, depois de notícia de que a Siemens delatou ao Cade a existência de um um conluio entre empresas para ganhar licitações aumentando os valores cobrados para instalar trens e metrô no Estado, com aval do governo.
Após a delação, 15 investigações que estavam arquivadas por falta de provas estão sendo reabertas. Pelo menos cinco inquéritos estão relacionados com o acordo de leniência que, segundo reportagens do jornal “Folha de S.Paulo”, foi assinado pela empresa Siemens no Cade.
A empresa alemã Siemens, que faria parte do suposto esquema, entregou ao Cade documentos em que afirma que o governo de São Paulo sabia e deu aval à formação de um cartel que envolveria 18 empresas. Além da Siemens, seriam ainda participantes subsidiárias da francesa Alstom, da canadense Bombardier, da espanhola CAF e da japonesa Mitsui.
Ao menos 18 empresas estão sendo investigadas por supostas irregularidades também na manutenção do metrô de São Paulo.



Fonte: G1