Foi em 2004 que começou
meu sonho de ser policial federal. Estava terminando o curso de Administração
e, apesar de trabalhar na área há quatro anos, não tirava da cabeça essa meta,
que se tornaria prioridade de vida.
Naquele
tempo, a Polícia Federal estava em alta. Toda semana o noticiário mostrava uma
grande operação, geralmente com a prisão de dezenas de investigados. Como a
maioria da população, que não conhece os bastidores do órgão, sentia orgulho e
muito respeito pela Polícia Federal. ...
Naquele
ano, pedi demissão do emprego na iniciativa privada e passei a me dedicar dez
horas por dia aos estudos, no intuito de realizar o tão almejado
sonho, que
logo viria a se concretizar. Fui aprovado no cargo de agente de Policia
Federal, graças a Deus!
Durante
o curso de formação profissional, na Academia Nacional de Polícia (ANP), em
Brasília passei quatro meses e meio estudando e aprendendo a técnicas e
procedimentos do chamado “FBI brasileiro”. Mais tarde descobri que essa
analogia, feita com frequência pela mídia, é equivocada.
Acreditei
que um dia poderia fazer a diferença para o País, que seria respeitado pela
sociedade e pelos governantes, em razão do meu trabalho, dedicação, sacrifício,
qualificação, conhecimentos acadêmicos e experiência profissional, adquiridos
em minha carreira.
Em
2006, tomei posse numa superintendência na Região Norte, para onde me mudei,
junto com a esposa, que compartilhava o mesmo sonho e acabou por se tornar
escrivã de Polícia Federal. Como tantos colegas, abdiquei de horas de
convivência com a família, de lazer e de sono. Enfim, “dei o sangue”, como se
diz na gíria policial, em prol da PF e da sociedade.
Em
poucos meses, no choque com a realidade, o sonho começou a ruir. Deparamo-nos
com a realidade que a maioria da população desconhece: que não podemos fazer a
diferença, como esperávamos. Que a maior parte do nosso trabalho não iria dar
em nada!
Atualmente,
somos subutilizados como profissionais. Sequer temos atribuições e remuneração
condizentes com o nível superior dos cargos, consagrado por lei desde 1996 e
reconhecido pelo Ministério do Planejamento.
Como
assim? O “FBI brasileiro” não reconhece seus bravos servidores policiais?”,
poderia questionar alguém que só conhece a PF por sua televisivas operações. A
resposta é simples: “NÃO!”
Tudo
indica que o “sistema” não tem interesse em fortalecer e reconhecer a
importância da categoria de escrivães, papiloscopistas e agentes da Polícia
Federal.
Há
mais de mil dias, os policiais federais estão negociando com o governo, através
do Ministério da Justiça, Ministério do Planejamento e da própria Secretaria da
Presidência da República e até agora foram “cozinhados em banho-maria”, sem
nada de concreto ou perspectiva de mudanças, em curto, médio ou longo prazo.
A
mídia, aparentemente comprada pelo atual “sistema”, limitou-se a divulgar a
versão dos supostos transtornos da greve dos policiais federais, ocorrida no
ano passado, a maior e mais longa de todos os tempos. Os jornais se esqueceram
de informar à sociedade a verdadeira razão da greve, muito além de
reivindicações salariais: o pedido de “SOCORRO”, por mais eficiência na
prestação dos serviços de segurança pública.
Através
de vários estudos já foi demonstrada a notória ineficiência do arcaico modelo
de investigação criminal no Brasil, que tem por base o inquérito policial. Essa
peça só existe no Brasil e, segundo os dados, não se presta a apurar autoria e
materialidade de 95% dos crimes.
Soluções
de aperfeiçoamento desse modelo já foram apresentadas e aparentemente
engavetadas pelos dirigentes da PF, que alegam outras prioridades.
Os
policiais federais estão batendo em todas as portas de gabinetes de autoridades
políticas e expondo a situação em audiências públicas. Pelas ruas, gritaram e
continuam gritando por SOCORRO. Até hoje, alguns parlamentares e formadores de
opinião engrossaram o nosso coro. Mas até agora NADA!
Os
índices de violência e criminalidade no Brasil aumentam vertiginosamente,
enquanto milhares de inquéritos estão parados, sem solução e a população clama
por justiça, por mudanças. Familiares de vítimas choram e sofrem na expectativa
de soluções da polícia e NADA! Quem será a próxima vítima? Eu? Você? Seu filho?
Seu amigo?
Início
de 2013, como a maioria dos EPA´s, estou revivendo o antigo sonho, agora
pesadelo. Desencantado, desmotivado, decepcionado e triste, em constatar que a
Polícia Federal está morrendo lentamente e seus dirigentes e os governantes
nada fazem para mudar essa situação.
Estou
frustrado por descobrir que meu sonho de me tornar agente de Polícia Federal e
contribuir para a mudança do País não passou de utopia. No jargão popular, é
como “dar murro em ponta de faca”. De sentir que meu orgulho de ser federal
(como na letra do hino da PF) está acabando, está morrendo...
Quem
vai sentir as consequências não são apenas os policiais federais, mas todos
nós, cidadãos!
Como
a esperança é a última que morre, principalmente num país como o Brasil, onde a
morte tem a violência e o descaso como aliados, resta torcer para que a
sociedade organizada se junte a nós, no grito de “SOS Polícia Federal”.
* Paulo Sarudy Marques de Souza é Agente de Polícia Federal bacharel em
Administração (e-mail psarudy@hotmail.com)
Fonte: Fenapef - 23/01/2013