sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Justiça adia depoimento de Cachoeira sobre fraude no DF


O bicheiro Carlinhos Cachoeira não prestou depoimento durante a audiência desta quarta-feira sobre o processo que investiga irregularidades no sistema de bilhetagem eletrônica no Distrito Federal. A juíza Ana Cláudia Barreto, titular da 5ª Vara Federal, marcou para o dia 29 de agosto uma nova audiência para ouvir o contraventor e outros réus no processo. Os advogados de defesa pediram para que seus clientes prestassem depoimento apenas após a oitiva de todas as testemunhas. Ainda restam duas para serem ouvidas.

Cachoeira é réu em processo decorrente da operação Saint-Michel, da Polícia Civil do Distrito Federal. Além do bicheiro, outros sete réus são acusados
de tentar controlar o sistema de bilhetagem do transporte público no DF, em uma fraude que renderia R$ 60 milhões aos envolvidos. Eles respondem por tráfico de influência e formação de quadrilha.
Na audiência de hoje, quatro testemunhas prestaram depoimento. Elas são funcionários envolvidos no sistema de transporte público do Distrito Federal. Além das testemunhas, o assessor de Cachoeira, Gleyb Ferreira, também réu no processo, foi ouvido.
Apontado como braço direito de Cachoeira, Gleyb pediu para falar antes, porque queria um relaxamento de prisão. Quando ele começou a ser interrogado, três horas e meia após o início da audiência, Cachoeira foi retirado da sala. De acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT), a retirada do bicheiro serviu para evitar coação a Gleyb.
Segundo o advogado de Gleyb da Cruz, Douglas Messora, "não houve fraude" no apoio a uma empresa sul-coreana que tentava participar de uma eventual disputa para implantar sistema de bilhetes eletrônicos no DF. "Não houve edital, não houve licitação, não houve crime. O erário não sofreu nenhum prejuízo", disse Messora.
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
Com informações da Agência Brasil