terça-feira, 10 de julho de 2012

Advogados citam Pessoa e Luther King em defesa de Demóstenes


Na véspera de o plenário do Senado decidir se cassa o mandato de Demóstenes Torres(sem partido-GO), o advogado do senador distribuiu nos gabinetes da Casa um memorial de defesa, que resume todos os argumentos usados no processo disciplinar que ele enfrenta por suposta quebra de decoro parlamentar por causa da relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Assinado pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e outros quatro advogados, o memorial cita, já
no início, o líder americano Martin Luther King e o escritor português Fernando Pessoa.
"A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar", diz a frase de Luther King. Em seguida, vem a frase de Pessoa: "Ergo-me da cadeira com um esforço monstruoso, mas tenho a impressão de que levo a cadeira comigo, e que é mais pesada, porque é a cadeira do subjetivismo".

Na introdução, Kakay invoca ainda uma citação do filósofo e escritor francês Charles de Montesquieu para advertir os senadores sobre o risco de, no futuro, eles mesmos serem alvo de um pedido de cassação. Segundo o defensor, "a injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todo".

O documento de 32 páginas é a última peça escrita da defesa antes da votação secreta desta quarta que decidirá o futuro político de Demóstenes e foi entregue pessoalmente por Kakay, Influente no meio político, a vários senadores.

Pressão

O texto, dividido em sete capítulos, resume a trajetória do parlamentar e aponta uma suposta tentativa de "destruição" de imagem política de Demóstenes e que seria "obrigação" dos parlamentares resistir à pressão da opinião pública.

"A defesa não pode deixar de lembrar que é obrigação de todos os senadores e senadoras resistirem a essa cobrança toda, a essa desmedida e criminosa pressão que não cessa, não apenas porque estão prestes a julgar um dos seus, que sofre a maior injustiça de sua vida e, seguramente, uma das maiores injustiças da história da democracia neste país" diz.

O documento também rebate, ponto a ponto, todas as denúncias de irregularidades contra Demóstenes reveladas nos últimos quatro meses, como a que teria participação de 30% nos lucros do jogo ilegal, de que teria pedido a Cachoeira R$ 3.000 para pagar táxi aéreo, de que teria  contas de celular pagas pelo bicheiro, ou sobre a suspeita de que teria recebido R$ 1 milhão em sua conta, entre outras.

"A defesa afirma e repete que não há aqui pedido de perdão por erros cometidos (pois DEMÓSTENES não os cometeu), mas há uma súplica para que o ouçam, que todos leiam essas explicações com atenção e que percebam ao final que não há quebra de decoro alguma, não há um ato sequer que desonre a atuação como parlamentar, que macule sua respeitabilidade, que manche sua vida pública", enfatiza o advogado no documento.

Ética

No Senado desde 2003, Demóstenes era tido no Congresso como um inflexível defensor da ética até a Polícia Federal (PF) prender Cachoeira. As investigações revelaram escutas telefônicas que demonstrariam que o parlamentar teria utilizado seu mandato para beneficiar os negócios do contraventor.

No documento distribuído aos senadores, Kakay tenta minimizar eventuais rusgas e ressentimentos gerados por conta da postura contundente de Demóstenes no passado diante de supostos desvios dos colegas. O advogado lembra no texto que, talvez, o senador esteja sendo julgado, sobretudo, por ter sido "rigoroso" e "agressivo" nas palavras e "duro" nas cobranças cotidianas.

"Mas se estes atos do passado o afastam dos seus pares, por eventual falta de cordialidade, certamente não representam potencial para justificar sua cassação", apela a defesa.


Fonte: G1