O presidente adota discurso da conciliação
na briga entre Olavo de Carvalho e os militares brasileiros, mas últimas ações,
como mudanças na presidência da Apex e reuniões com integrantes das Forças
Armadas, indicam que os oficiais tendem a levar a melhor
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Bolsonaro assina decreto com novas regras sobre uso de armas: elogio a Olavo e desejo de que o assunto seja página virada(foto: Carolina Antunes/PR) |
Pressionado
por interlocutores da alta cúpula militar a pôr fim à guerra entre os oficiais
das Forças Armadas e o escritor Olavo de Carvalho, o presidente Jair Bolsonaro
adotou uma estratégia para se manter neutro e não se inclinar a nenhum lado. Em
relação ao ideólogo da direita conservadora, escolheu um tom conciliador,
elogiando o “guru” e defendendo a liberdade de expressão. Quanto aos militares,
deu carta branca para a militarização da Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o braço da política comercial do
Itamaraty, chefiado pelo ministro olavista Ernesto Araújo.
A tática de Bolsonaro não põe fim à guerra entre as alas ideológica e militar do governo. Mas dá fôlego para acalmar os oficiais, que se irritaram com a postura complacente a Olavo. Ontem pela manhã, no Twitter, o presidente declarou que espera que os “desentendimentos” sejam uma “página virada por ambas as partes”. No entanto, elogiou o “guru”, dizendo que continua a admirá-lo. “Sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse ao governo, sem a qual o PT teria retornado ao poder”, declarou. À tarde, disse que o ideólogo é “dono do seu nariz” e se manifestou a favor da liberdade de expressão dele de criticar, ressaltando que recebe críticas “muito graves todo dia”. “E não reclamo. Inclusive, olha só: o pessoal fala muito em engolir sapo. Eu engulo sapo pela fosseta lacrimal e estou quieto aqui, ok?”, declarou.
O apoio aos militares não foi dito publicamente, mas nos bastidores. Bolsonaro participou, ontem, da reunião conjunta do Alto Comando das Forças Armadas. Participaram do encontro, que se estendeu em um almoço, oficiais quatro estrelas das três forças. Estiveram presentes o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; os comandantes do Exército, general Edson Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa Junior; e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Antonio Carlos Bermudez. A portas fechadas para a imprensa, o presidente da República manifestou ao alto escalão militar o prestígio dos oficiais no governo e defendeu a permanência do bom relacionamento.