Vamos dar asas ao cavalo
branco da imaginação. Suponhamos que a CPI do Cachoeira funcione a contento,
comprovando a corrupção praticada por parlamentares, governantes, altos
funcionários de governos variados, policiais e empresários, sob a coordenação
do bicheiro. Depois de meses de trabalho, esses resultados constarão do
relatório final da CPI, divulgado e encaminhado ao Ministério Público, para
providências. ...
Haverá a hipótese de os
parlamentares envolvidos, com o senador Demóstenes Torres à frente, perderem
seus mandatos, por ação dos Conselhos de Ética do Senado e da Câmara e decisão
dos respectivos plenários. Quem sabe até o exemplo se repetisse numa ou outra
Assembléia Legislativa, porque as cassações independem de pronunciamentos da
Justiça. São políticas. Cadeia, no entanto, nem pensar. Antes dela falarão as
prescrições, caso venham a responder a processos.
Governadores como Marconi
Perillo, Agnelo Queiroz e Sergio Cabral também podem, na teoria, ser cassados,
se evidenciada sua participação ativa nas lambanças. Agora, na dependência do
voto da maioria dos deputados estaduais. Nessa hora, funcionarão os esquemas
político-partidários armados no começo de cada administração.
Fidelidade em troca de
secretarias e da direção de empresas estatais, ou da celebração de contratos
entre o poder público e empresas recomendadas pelos partidos e as lideranças.
Ficará quase impossível o impeachment político dos governadores, vale repetir,
se evidenciada sua culpabilidade. Só o Poder Judiciário, através de demorados
processos, teria condições de afasta-los, mas quando se caracterizassem as
sentenças, seus mandatos teriam terminado faz muito.
Quanto a secretários e
altos funcionários, se os governadores não os sacrificarem em nome de sua
própria sobrevivência, a Justiça será capaz de atingi-los, mas igualmente em
processos bem mais longos do que seus períodos nos governos.
Policiais sempre poderão
ser demitidos a bem do serviço público, em processos administrativos, mas o
corporativismo funciona nessas horas, pelo menos protelando a ação da Justiça,
se tiverem sido abertos processos contra eles pelo Ministério Público.
Sobram os empresários, na
quadrilha do Cachoeira e em inúmeras outras quadrilhas semelhantes, até mais
poderosas. Neles, a CPI não chegará senão retoricamente, podendo apontar um ou
outro como agente corruptor e beneficiário da corrupção. Estarão todos, porém,
muito bem blindados, até na teoria desligados de suas empresas. Até hoje,
faltam exemplos de punição efetiva para os empresários corruptos.
Não se dirá que entre
mortos e feridos salvar-se-ão todos, mas é quase isso. A exceção talvez venha a
ser o próprio Carlinhos Cachoeira, como satisfação para a opinião pública. A
CPI não deverá poupá-lo, nem o Ministério Público, muito menos os tribunais. Isso
caso não venha a encontrar-se gozando de sua fortuna fora do país.
Por Carlos Chagas
Fonte:
Blog Tribuna da Internet / Blog do Edson Sombra - 02/05/2012