quinta-feira, 27 de junho de 2013

PM usa força contra manifestantes na Esplanada

Eixo Monumental Foto:Monique Renner

Depois de nove horas de manifestação totalmente pacífica, o ato na Esplanada dos Ministérios terminou ontem à noite de forma violenta. Tudo ia bem até as 21h, quando policiais militares começaram a jogar spray de pimenta em um pequeno número de pessoas que insistia em ocupar o espelho d’água do Congresso Nacional. Outro grupo reagiu com rojões contra os agentes de segurança. A partir de então, a cavalaria e a tropa de choque entraram em ação. Jogaram bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo na multidão. Cinco carros da Rotam subiram no gramado e, em zigue-zague, partiram para cima, sem fazer distinção entre vândalos e manifestantes. Usaram balas de borracha e as controversas pistolas taser para imobilizar suspeitos. A PM, no entanto, negou possíveis excessos.

À 0h, o balanço parcial da Secretaria de Segurança Pública era de 40 presos e quatro policiais feridos, sendo um por bomba e outro por causa de uma garrafa. O Correio ouviu diversos relatos de supostos abusos cometidos por PMs. Entre eles, o de Bruno Roberto Brito, 34 anos, com o rosto todo machucado e sangrando, caído perto da Rodoviária do Plano Piloto. Ele disse ter sido espancado por militares durante a
confusão no gramado central da Esplanada. Um dos repórteres acabou perseguido por uma equipe da Rotam, mesmo após se identificar como jornalista. Ele havia abordado os policiais perguntando o motivo de uma das prisões. Em resposta, quase levou um golpe de cassetete e teve de correr para não ser imobilizado e preso.

Antes dos conflitos, os policiais prenderam duas pessoas, uma por porte de droga e outra com facas. Até às 23h, porém, não havia registro de depredação do patrimônio público ou privado. Essa também foi uma das manifestações de menor público na capital. Na maior parte do tempo, havia menos ativista do que PM. Em média, a Esplanada recebeu 2 mil pessoas. No começo da noite, no ápice do movimento, eram 5 mil. As forças de segurança deslocaram 4 mil policiais militares para a área central da cidade, além de cães, a cavalaria, helicópteros e blindados. Quando a Polícia Militar começou a fazer o arrastão na Esplanada, caminhões do Exército passaram pela N1, atrás dos ministérios.

Pouco público

Os confrontos entre manifestantes e policiais tiveram início pouco antes das 21h, sem maior gravidade. PMs jogaram spray de pimenta contra quem insistia em ficar no espelho d’água do Congresso Nacional. Em resposta, algumas pessoas, com sinais de embriaguez, jogaram bombinhas de festa junina nos militares. Mas a tensão só aumentou, e os vândalos passaram a arremessar garrafas de plástico cheias de água e rojões na direção dos agentes de segurança. Os policiais revidaram com bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo. Dessa forma, os ativistas que não queriam violência começaram a se dispersar e a esvaziar ainda mais o gramado da Esplanada, após as 21h20.

Apesar dos conflitos, a tensão no protesto de ontem foi bem menor em comparação com o da última quinta-feira, quando o ato reuniu 35 mil pessoas e terminou em quebradeira e com cenas de vandalismo ao longo da Esplanada. Um número menor de pessoas cobria o rosto com máscara. Um grupo chegou a invadir o espelho d’água do Congresso Nacional e começou a provocar os policiais militares. No entanto, acabaram cedendo aos apelos da maioria para que saíssem do local e parassem de jogar água e objetos nos PMs. Os representantes dos movimentos sociais incentivaram os participantes a denunciarem quem atirava fogos de artifício e bombas nos policiais. Duas jovens que informaram a prática aos policiais foram hostilizadas por um grupo de pessoas e deixaram o local escoltadas pela PM.

Os líderes da manifestação creditaram o baixo público de ontem a uma série de fatores, como o jogo entre Brasil e Uruguai pela Copa das Confederações, a dispensa do serviço de funcionários públicos quatro horas antes do início da partida, os boatos de uma greve geral de motoristas e cobradores de ônibus — que não se confirmou — e a mobilização dos congressistas em votar itens da extensa pauta de reivindicações dos protestos que ganharam as ruas de todo o país. Ontem, o Senado aprovou o projeto que define corrupção como crime hediondo. Enquanto isso, a bola rolava em Belo Horizonte, Minas Gerais.