sábado, 9 de fevereiro de 2013

A nova farra dos Passos


Haras da família de ex-distrital acusado de ser o responsável pela criação de 14 condomínios é palco de festa ilegal e revolta moradores. No sábado, evento promovido no local, próximo ao Residencial RK, incomodou vizinhos

No último sábado, cerca de mil pessoas participaram de um evento no local: sem amparo legal


Uma festa de arromba promovida no último sábado em um haras que faz limite com o Residencial RK, em Sobradinho, agitou pelo menos mil convidados do lado de dentro da balada e deixou outros 10 mil moradores revoltados com a farra sem limite de idade, volume de som, número de participantes, horário para encerramento ou qualquer tipo de autorização do poder público. O endereço de onde ocorreu o evento está em posse da família Passos, em que integrantes são apontados pelo Ministério Público como responsáveis pelo parcelamento de 14 condomínios, entre eles o RK, cuja a propriedade é discutida judicialmente.

Passava das 22h quando uma movimentação atípica na área, próximo à Torre Digital, chamou a atenção de quem
vive no local. Em pouco mais de uma hora, a fila de carros na única pista que dá acesso à entrada do residencial, a DF- 440, causou um congestionamento de mais de um quilômetro, que reteve o trânsito por uma hora e meia. ...
 
Na entrada da propriedade, uma faixa anuncia a atividade desenvolvida no lugar: cavalos e baladas



Nos carros, jovens a caminho da Chácara nº 7 do Residencial RK, endereço fornecido pela organização da festa, com entrada livre para mulheres e ingressos a R$ 10 para homens. Embora identificado como parte do condomínio, o local em questão está fora da Poligonal do RK e pertence à área rural do DF. Mas o único acesso para se chegar ao haras, cuja posse está em nome de Walmar Passos, filho de Márcio Passos, um dos irmãos do ex-deputado distrital Pedro Passos, é pela portaria do parcelamento. Assim, a noite do último sábado, segundo relatos de vários moradores que denunciaram a  festa sem alvará da Administração de Sobradinho, foi um “inferno”.
 
O casal Sônia Marília e Mário Siqueira vive no local desde 2003 e confirma que nunca houve agito tão retumbante nas imediações


  


Bagunça e drogas
Moradora do RK há seis anos, a professora Mônica Aviani ficou estarrecida com o evento na rua vizinha de onde vive com os dois filhos, Emanuel, 15 anos, e Tiago, 2. Ela conta que se assustou com a movimentação de carros e saiu de casa para ver o que estava acontecendo. “Não era uma festa, foi uma orgia. Gente bêbada, meninas que não tinham nem 13 anos, consumo de drogas, vestígio de sexo”. No dia seguinte à balada, moradores encontram garrafas, latas de bebidas e camisinhas nas proximidades do haras.

A versão de Mônica foi repetida com detalhes por outros vizinhos que, próximos ou nem tanto do haras, ouviram barulho durante a noite toda. “A gente não conseguia ver tevê, conversar e muito menos dormir. Foi uma coisa absurda, uma falta de respeito com as famílias, disse a aposentada Sônia Marília. Ela e o marido, Mário Siqueira, moram no condomínio desde 2003 e, segundo contam, foi a festa mais retumbante que já testemunharam nas imediações. Impressão que o comerciante Josivan Lopes Ribeiro confirma. Ele é um dos pioneiros do local que se consolidou na última década. “Nunca havia ocorrido um engarrafamento como o do último sábado. A gente paga o condomínio para ter segurança, mas o que houve foi uma festa sem controle, com a participação de crianças, drogas ilícitas, uma bagunça sem precedentes”, contou Josivan.
 
A professora Mônica Aviani se assustou com a movimentação: "Não foi uma festa, foi uma orgia"

Sem conseguir conter os carros e as pessoas que entravam no condomínio para ter acesso ao haras da família Passos, os administradores do residencial chamaram a polícia já na madrugada de domingo. Os PMs impediram que uma parte dos veículos entrasse, mas, a essa altura, centenas dos convidados já estavam na festa. Os organizadores do evento divulgaram uma nova edição para amanhã, onde convidam, via Facebook, os “tequileiros e tequileiras” para uma festa que vai durar “a noite toda” com “som automotivo, segurança especializada e a presença do rapper Chilli Abase”. Na propaganda está especificado que é “permitida a entrada com bebidas”.   

Desde 1995, com a CPI da Grilagem, é conhecida a suspeita de que os empreendedores do Condomínio RK são os irmãos Passos. Assim, moradores que compraram seus terrenos em área irregular nascida pelas mãos da família, hoje se incomodam com a interferência dos próprios mentores desse residencial. Inusitado.

Ações

Na Justiça local, tramita uma ação civil pública para a desconstituição do RK. A propriedade da área é reclamada pela Terracap. Corre ainda na 3ª Vara Federal, desde 2001, uma ação de improbidade administrativa movida contra integrantes da família Passos, da Terracap, além do ex-governador Joaquim Roriz.

Memória

Segurança preocupa

A preocupação com a segurança em danceterias e casas de festa da capital, assim como em todo o país, cresceu depois da tragédia Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Passados 10 dias, o Corpo de Bombeiros visitou 24 boates nas diferentes regiões administrativas à procura de irregularidades nos sistemas de combate a incêndio. Todas apresentavam algum tipo de problema e foram notificadas pelos militares, sendo que duas acabaram interditadas. Além disso, quase um em cada quatro bares e restaurantes vistoriados pela Agência de Fiscalização do DF (Agefis) não tinha licença para funcionar e também precisou fechar as portas.

As falhas encontradas pelos bombeiros nos estabelecimentos vão desde a instalação de extintores em locais inadequados até a falta de saídas de emergência, como verificado em um local no Gama e em outro na Asa Norte, ambos interditados. O trabalho dos militares ressalta a importância de que esses locais sejam inspecionados constantemente para garantir a segurança dos frequentadores. No caso do haras da família Passos, a propriedade não conta com qualquer amparo legal para promover festas, expondo ainda mais as pessoas que participam das baladas ilegais.

Por Lilian Tahan


Fonte: Correio Braziliense - 08/02/2013