A sequência de denúncias
envolvendo parlamentares brasileiros e entidades públicas com o bicheiro goiano
Carlinhos Cachoeira vai levar o povo às ruas em breve em uma grande marcha
contra a corrupção. Essa é a opinião do jurista Ives Gandra, doutor em Direito
com mais de 40 livros publicados, entrevistado pelo Jornal do Brasil nesta
terça-feira, Dia do Trabalho. ...
O advogado vê na luta pelo
combate à corrupção a mola propulsora do exercício da cidadania dos
trabalhadores. "A classe trabalhadora não sabe bem o que está acontecendo,
mas quando ocorre um caso de grande repercussão, é como se jogassem uma luz
sobre o que ocorre nos porões do poder. Com casos deste tipo, o povo passa a
reagir com passeatas. Assim, os trabalhadores exercem a cidadania", disse
o jurista, sem querer comentar as denúncias que envolvem o senador Demóstenes
Torres (sem partido-GO), o deputado federal Stephan Nercessian (PPS-RJ), e os
governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e de Brasília, Agnelo Queiroz
(PT), além de outros políticos.
Para Gandra, há que se
apurar todas as denúncias o quanto antes. "A simples apuração das
denúncias já pode ser considerada um diferencial. É para a realização dessas
apurações que todos nós - sobretudo a classe trabalhadora - devemos lutar. É um
momento difícil, mas os trabalhadores não podem ficar desacreditados. É hora de
despertar para a cidadania e para a mudança."
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a
exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de
fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro
Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia
propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos
Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que
ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas
realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o
senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do
seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes,
reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente,
que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre
eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3
mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou
informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três
Poderes.
Pressionado, Demóstenes
pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia
seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um
dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM,
senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia
decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que,
no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação
interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos,
agentes públicos e empresas.
Após a publicação de
suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo
federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa
anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas
apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT),
do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o
Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Fonte: Jornal de Brasília
- 02/05/2012