Um remédio usado pela presidente Dilma Rousseff para o tratamento do
câncer no sistema linfático que teve em 2009, o rituximabe, foi vetado em
caráter preliminar pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para ser prescrito a
pacientes da rede pública.
O documento, da Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec), esteve até esta
segunda-feira em consulta pública e causou protestos de médicos e da Associação
Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). Já na rede privada, o mesmo medicamento
tem licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para ser receitado
desde 1998. ...
Dilma foi curada de um
linfoma não Hodgkin de grandes células B. Para este tipo de linfoma — um entre
os 20 tipos existentes e que acomete 30% dos pacientes com a doença — o SUS já
aprovou o uso do rituximabe. Mas para o linfoma não Hodgkin folicular,
responsável por outros 20% dos casos, o parecer prévio da Conitec informou que
não
foram encontradas evidências que justificassem o uso do remédio. Em média,
o tratamento completo com o medicamento custa cerca de R$ 50 mil, de acordo com
a Abrale.
A Conitec fez o parecer
usando informações da Roche, farmacêutica que fabrica o remédio e pediu à
comissão a licença para fornecer o remédio à rede do SUS.
Agora, terminado o prazo
para consulta pública, a comissão do SUS terá que divulgar se mudou de ideia ou
manterá o medicamento fora da lista fornecida pela rede pública. De acordo com
o Ministério da Saúde, o parecer final deverá ser anunciado entre os meses de maio
e junho.
— A comunidade médica
internacional inteira recomenda o uso deste medicamento para o tratamento da
doença. É como prescrever penicilina para tratar pneumonia. Não foi usado um
critério médico, mas sim econômico para vetar o uso do rituximabe — afirma o
oncologista Daniel Tabak, ex-diretor do Instituto Nacional do Câncer.
Diretor da Sociedade
Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia celular, Carlos Sérgio
Chiattone demonstrou perplexidade com o parecer técnico da Cointec. O
hematologista diz que o documento distorce estudos científicos que comprovam o
efeito do remédio no tratamento do linfoma folicular, associado à
quimioterapia:
— É de absoluto
conhecimento da comunidade científica no mundo desenvolvido da prescrição da
imunoterapia (classe de medicamento à qual pertence o rituximabe) para o
linfoma não Hodgkin folicular. Até os planos privados, que costumam ser
altamente restritivos com custos, aceitam o tratamento.
Chiattone diz que a
Conitec conseguiu ir na contramão inclusive do que prescreve a Rede Nacional de
Compreensão sobre o Câncer, dos EUA (NCCN, na sigla em inglês), entidade que
usa informações das 23 principais instituições de estudo de câncer do mundo.
— É razoável que o governo
diga eventualmente que não tem dinheiro para determinado remédio e prefira usar
o recurso para outro fim, mas com argumentos honestos. Nestes termos que a
Cointec usou, é inaceitável.
No Brasil, o linfoma não
Hodgkin é diagnosticado em cerca de 10 mil pessoas por ano e 3.500 pessoas, em
média morrem da doença no mesmo período.
—Toda semana, entre 10 e
15 pacientes entram em contato conosco com dificuldades em obter o remédio.
Acabam entrando na Justiça para consegui-lo, o que acaba sendo mais oneroso
para o governo. É uma tristeza ver um paciente ter que vencer a burocracia para
ter garantido um direito constitucional — disse Merula Steagall, presidente da
Abrale — que submeteu à comissão do SUS uma lista mais de 61 mil assinaturas
colhidas na internet contra o parecer.
04/13
Duilo Victor
O Globo
Fonte:
Portal FolhaPolitica.Org - 08/01/2014