"Não se faz obra pública no Brasil sem
propina"
A tese do
advogado Mario Oliveira Filho, que defende o lobista Fernando Baiano, de que
não se faz obra pública no Brasil sem propina para políticos é uma variação da
tese genérica que as grandes empreiteiras brasileiras estavam montando para uma
defesa conjunta, a de que estavam sendo extorquidas pelo governo...
Com isso,
queriam reduzir as suas responsabilidades no esquema desvendado pela Operação
Lava-Jato e de corruptoras passarem a vítimas de um esquema político perverso.
A defesa de Fernando Baiano, generalizando tanto
a praga da corrupção a ponto
de dizer que se o empresário “não fizer isso, não tem obra", em qualquer
prefeitura do país, mistura alhos com bugalhos.
Se para elas
o que interessa é misturar tudo e dar a sensação de que o megaroubo na
Petrobras é igual ao de uma prefeitura do interior, para os cidadãos é preciso
fazer uma distinção absolutamente essencial. A corrupção generalizada no país
não é de hoje, e o fato de ter se espalhado até o mais modesto município
brasileiro só mostra que a impunidade fez aumentar a possibilidade de
corrupção.
Ao mesmo
tempo, há montado na Petrobras, e provavelmente em outras estatais, um esquema
corrupto que não é vulgar e que já mostrou suas garras no episódio do mensalão.
Em vez de combater a corrupção disseminada, como prometia fazer antes de chegar
ao poder, o Partido dos Trabalhadores, ao contrário, aderiu à maneira
brasileira de fazer política e transformou-a em um método de dominação do Poder
Legislativo e de perpetuação de poder.
Quando Lula
disse que no Congresso havia 300 picaretas, em tom de crítica, parecia o líder
político que queria mudar a maneira de governar o país. Mas quando chegou sua
vez de mostrar a que veio, Lula comandou um governo que institucionalizou a
corrupção para garantir apoio político, aperfeiçoando e aprofundando as
técnicas que eram usadas naturalmente pelos políticos brasileiros há décadas.
Que havia
corrupção na Petrobras muito antes de o PT chegar ao poder, ninguém discute. O
que é espantoso é que essa corrupção tenha chegado ao ponto que chegou e tenha
se tornado institucional a ponto de o então deputado federal Severino
Cavalcanti, alçado à condição de presidente da Câmara em episódio que marca a
degradação daquela Casa do Congresso, ter feito em público a exigência de
nomear “o diretor que fura poço”.
Os 300
picaretas do Congresso já sabiam àquela altura que as diretorias da maior
estatal brasileira estavam sendo leiloadas para os partidos políticos da base,
com direito a percentagens generosas de todo e qualquer contrato.
Como partido
organizado e bem comandado, o PT transformou a roubalheira generalizada em
instrumento de controle político, o que deu até a seus integrantes mais
ideológicos uma paz de espírito com a desculpa de que agiam assim em nome “da
causa”. Até mesmo quando parte do desvio vai para seus bolsos privados, a
manutenção do “objetivo maior” dá-lhes a certeza de que mereciam cada tostão
desviado.
Será preciso
separar muito bem o joio do trigo para não se confundir o que é roubo vulgar do
esquema político montado às custas do dinheiro público. E se é verdade que as
empreiteiras foram extorquidas pelo esquema que o governo controlava, também é
verdade que sempre trabalharam dessa maneira, embutindo sobrepreços nas
licitações, fosse para compensar a inflação, ou para molhar a mão de um
gerentezinho ou do ministro da área.
O que mudou
nos anos petistas é que a roubalheira nas principais áreas do governo foi
monopolizada pelo esquema político que almeja a hegemonia. É claro que o
pequeno empreiteiro do menor município do país continua tendo que pagar propina
local, mas este é um problema de impunidade. O que aconteceu na Petrobras é um
problema político.
Fonte: Blog do do MERVAL
PEREIRA - 23/11/2014