Servidor que
espionava os próprios colegas na agência continua distante da punição.PF quer
identificar os interessados nos dados e só deve concluir apuração em maio
Mesmo
diante da veemente cobrança pública feita em setembro do ano passado pelo
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que ordenou absoluto rigor e
celeridade na apuração do caso revelado pelo Correio de arapongagem na Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), a Polícia Federal sequer concluiu a
investigação. Na mesma ocasião, Cardozo ressaltou que a apuração em relação ao
servidor da Abin que espionava informações dos próprios colegas era prioritária
para o
governo federal. A informação repassada na época indicava que todos os
trabalhos seriam finalizados em um mês. “Isso é uma determinação de governo, ou
seja, é uma situação que obviamente exige investigação com rapidez”, afirmou o
ministro. ...
O
pedido de urgência foi feito por intermédio do ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general José Elito, ao qual a
Abin está subordinada. “O próprio ministro pediu à Polícia Federal que tomasse
todas as providências. Portanto, estamos fazendo dentro daquilo que a lei manda,
mas investigando com o máximo rigor e velocidade”, explicou, na época, Cardozo.
A assessoria de comunicação da Polícia Federal revelou, na quinta-feira, que o
inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Federal no fim do ano passado,
no entanto, retornou com prorrogação de prazo de 120 dias. Agora, a PF afirma
que os trabalhos só devem ser concluídos em maio. “A Polícia Federal irá
focalizar seus esforços na identificação dos interessados nos dados, se
próprios ou de terceiros”, diz o comunicado. O veículo, o celular e o
computador usados pelo suspeito foram periciados.
No
campo administrativo, os procedimentos investigativos também se arrastam sem
solução. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ligado diretamente à
Presidência da República, comunicou que o Processo Administrativo Disciplinar
(PAD), instaurado em setembro, teve sua conclusão prorrogada. O novo prazo para
o fim da investigação administrativa é 23 de janeiro. Enquanto durar o
procedimento, o servidor permanece vinculado à Abin.
O
espião foi preso no dia 14 de setembro do ano passado. Até ser descoberto, ele
já havia conseguido “hackear” 238 senhas dos investigadores que trabalham em
investigações estratégicas. Após as denúncias, a Polícia Federal montou uma
operação e conseguiu prender o infiltrado em flagrante dentro de sua sala de
trabalho na instituição. O episódio delicado, tratado de maneira sigilosa,
expôs de maneira constrangedora a fragilidade da estrutura responsável por
investigar, principalmente, ameaças potenciais ao chefe de Estado. Ele foi
libertado um dia depois. A Justiça arbitrou fiança no valor de três salários
mínimos e meio.
O
infiltrado W.T.N. havia sido empossado recentemente na Abin e ainda estava em
estágio probatório. O funcionário pode ser enquadrado por violação de sigilo
funcional, crime previsto no Artigo 325 do Código Penal.
Fonte:
Correio Braziliense - 13/01/2013