Faltam
kits de testes para a detectar a dengue e a febre chikungunya
A disparada das doenças transmitidas pelo Aedes
aegypti obriga autoridades sanitárias a intensificarem a prevenção e a
notificação dos casos. Contudo, a Secretaria de Saúde admite que a capital
federal tem somente 600 litros de biolarvicida, o veneno que mata as larvas do
inseto e 280 litros de inseticida usado nos carros fumacês. A quantidade é o
suficiente para apenas dois meses. Para uma piscina de 20 mil litros, por
exemplo, é necessário um litro do produto. O Plano Nacional de Enfrentamento ao
Aedes e à Microcefalia, do Ministério da Saúde, prevê que os estados estejam
com estoques abastecidos por pelo menos seis meses de combate.
O diagnóstico das infecções também está
comprometido. Faltam kits de testes para a detectar a dengue e a febre
chikungunya. Segundo a Secretaria de Saúde, por questões operacionais os exames
rápidos estão disponíveis somente nos pronto-socorros do Hospital Regional da
Asa Norte (Hran), do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e do Hospital
Regional do Guará (HRGu). Em Ceilândia, é possível
encontrar na unidade de pronto atendimento (UPA). Entretanto, a reportagem esteve em sete unidades médicas, inclusive no Hran, e não havia o insumo.
encontrar na unidade de pronto atendimento (UPA). Entretanto, a reportagem esteve em sete unidades médicas, inclusive no Hran, e não havia o insumo.
O Executivo local reconhece o deficit nas reservas
e diz estar em andamento um processo de aquisição regular para aumentar os
estoques. “O Ministério da Saúde prometeu que no próximo mês vai mandar, mas
não temos condições de esperar e vamos comprar com recursos próprios. Com o
aumento da demanda está faltando. Assim que atingimos o nível crítico acionamos
o Ministério”, explica Tiago Coelho, subsecretário de Vigilância à Saúde, ao
avaliar que a situação não é confortável.
Hoje, será publicado o edital de compra de insumos
para o combate ao Aedes. Porém, não há data para os produtos chegarem. O GDF
gastará cerca de R$ 7 milhões. “Brasília nunca precisou de tanto veneno quanto
agora. Estamos acostumados a ter surtos em determinadas regiões. O momento que
estamos vivendo temos um quadro de epidêmico”, completa Tiago.
A falta do kit para o diagnóstico pode levar a
subnotificações de casos no DF. Isso porque, com a escassez dos insumos, as
notificações passaram a ser clínico-epidemiológicas, ou seja, sem confirmação
laboratorial. A pasta garante que o risco de erro é mínimo. “Todos os médicos
são capacitados para, clinicamente, identificar os casos de dengue”, explica a
Secretaria, em nota. Em casos de dúvida, amostras do paciente são enviadas ao Laboratório
Central (Lacen-DF), que normalmente reconhece os diagnósticos dos testes
rápidos, para serem avaliadas.
O especialista em controle de doenças Pedro Luiz
Tauil ressalta que a carência exige que o médico seja criterioso ao identificar
a doença. “A falta do reagente não é boa, as pessoas têm o direito de fazer a
comprovação laboratorial”, critica. Segundo o estudioso, a falta de larvicida
(veneno para matar a larva) obriga o governo a usar outros métodos. “Deve ser
intensificada a eliminação mecânica dos criadouros”, explica.
A reportagem percorreu o Hospital Regional da Asa
Norte (Hran), os postos de saúde da 114/115, 208 e 905 da Asa Norte e, por
telefone, conversou com servidores do Centro de Saúde 5 de Ceilândia Sul, 1 de
Taguatinga e 2 do Guará. Em todas as unidades a indisponibilidade do teste é
confirmada. “Eles acabaram. Tente nos postos da 905 ou da 408 Norte, mas não
sei se eles estão fazendo. Aqui, o kit acabou e não tem o que fazer”, explicou
uma atendente, que pediu para ter o nome preservado.
Karina da
Silva Sobrinho, 18 anos, está com suspeita de dengue e há oito dias peregrina
por hospitais do Entorno e do DF a fim de conseguir o exame. A mais recente
tentativa ocorreu no Hospital Regional de Brazlândia (HRB). Também não
conseguiu. A mãe da moça, Carla Simone Silva, 35, detalha os sintomas: febre,
dores na cabeça e no corpo e vômito. “Minha filha está desidratada. Tem gente
tentando desde 8h e não conseguiu. Hoje (ontem), ela amanheceu toda empolada”,
lamentou a viúva.
Fonte:
Correio Braziliense