Investigações apontam empresário como ponte entre verbas públicas e
pagamentos ilícitos.
A Polícia Federal
deflagrou nesta terça-feira, 1º, uma série de ações contra aquele que é
apontado como o "operador" dos esquemas evolvendo a empreiteira
Delta. Trata-se de Adir Assad, que aparece como sócio majoritário ou gestor de
empresas de fachada usadas, segundo as investigações, para pagar propina e
financiar campanhas com recursos de obras públicas. ...
Segundo os agentes
federais, a Delta e seu controlador, Fernando Cavendish, transferiram R$ 300
milhões para 19 empresas de fachada entre 2007 e 2012. O dinheiro era
sacado em
espécie, nos bancos, por pessoas que tinham procurações das empresas fictícias.
Na Operação Saqueador,
deflagrada ontem de manhã, 100 policiais federais cumpriram 20 mandados de
busca e apreensão no Rio, São Paulo e Goiás.
Amparada na quebra do
sigilo bancário de cerca de 100 pessoas físicas e jurídicas, autorizada em 2012
pela CPI do Cachoeira - contraventor Carlinhos Cacheira, apontado como sócio
oculto da Delta -, a Polícia Federal constatou que Assad aparece como laranja
de quase uma dezena de empresas de fachada, por meio das quais fazia emissão de
notas frias de serviços e locação de máquinas e equipamentos para a
empreiteira.
O sistema, segundo os
federais, permitia que recursos desviados de obras públicas retornassem ao
caixa da empreiteira e, depois, eram usados para duas finalidades: corromper
servidores para ganhar licitações e financiar campanhas eleitorais por meio de
caixa 2.
Apreensões. Equipes da
polícia fizeram buscas nos endereços de Assad e seus familiares, em São Paulo.
Apreenderam documentos e arquivos digitais.
Outros alvos da missão
foram dois contadores que controlam o fluxo de caixa e de emissão de faturas
das empresas de Assad - um deles foi contratado logo depois do encerramento da
CPI do Cachoeira com a missão de blindá-lo.
No prédio onde Cavendish
reside, na praia do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, foram apreendidos
carros de luxo, computadores e documentos.
O superintendente da
Polícia Federal no Rio, delegado Roberto Cordeiro, e o coordenador da
Saqueador, Tacio Muzzi, informaram que foram recolhidos R$ 350 mil em dinheiro,
em escritórios e residências - pelo menos R$ 250 mil em espécie foram
encontrados em um cofre da Delta em São Paulo.
Um integrante do
departamento jurídico da empreiteira disse que o dinheiro seria usado para
pagamento de funcionários de fornecedores. De acordo com o delegado, os bens
apreendidos "seriam objetos adquiridos com dinheiro ilícito".
Peritos ficarão instalados
nos escritórios da Delta nos próximos dias para realizar análise contábil a fim
de apurar a origem do dinheiro desviado para as empresas de fachada.
A Polícia Federal buscou
na jurisprudência do processo do mensalão precedente para pedir à Justiça
Federal no Rio autorização para a permanência dos seus técnicos na sede da
empreiteira - o ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão, consentiu, anos
atrás, que peritos passassem vários dias no Banco Rural, em Belo Horizonte.
Na Delta, os peritos
buscam "furos" no controle de custos da empreiteira - planilhas que
construtoras mantêm para controlar o fluxo de caixa, mesmo quando é dinheiro
sujo. "Há fortes indícios de transferências milionárias de recursos
públicos", disse o delegado Cordeiro. "Grande parte dos negócios da
construtora envolvia obras públicas com recursos federais, estaduais e
municipais", afirmou.
A Justiça deu 30 dias para
os federais fazerem as investigações na Delta e nas demais empresas.
"Foram constatadas transferências da Delta Construções de aproximadamente
R$ 300 milhões para contas das empresas de fachada", disse o delegado
Tacio Muzzi. "Posteriormente, grande parte dos recursos era sacada em
espécie."
As empresas de fachada têm
registro na Junta Comercial, mas a maior parte não tem sede. Outras têm
endereços não compatíveis com o montante de recursos movimentado em suas contas
correntes e os sócios também não ostentam capacidade econômico-financeira condizente
com o volume de ativos que passava por essas contas. Em algumas empresas, não
há funcionários registrados.
"Esses indícios
denotam empresas de papel", disse Muzzi. "Há um grupo de 10 a 20 laranjas e pessoas por
trás dos laranjas", completou o coordenador da operação. Segundo ele, há
indícios de crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção
ativa e passiva e peculato - desvio de dinheiro público por servidor.
Caixa cheio. Mesmo após
ser declarada inidônea, a Delta, que atuava quase exclusivamente em obras
públicas, faturou, em 2012, R$ 877 milhões em contratos com a União, 12 Estados
e o Distrito Federal, já que a legislação não impede a continuação de obras em
andamento.
Fonte:
Luciana Nunes Leal e Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo - 02/10/2013