Neste ano,
disputas pelas prefeituras serão o termômetro das forças políticas e das
coligações em todo o país na sucessão ao Planalto
Apesar de ainda faltarem quase três anos para a
eleição do próximo presidente da República, e de haver um pleito municipal este
ano, que será um forte termômetro para a sucessão presidencial, os nomes mais
cotados já começam a escutar conselhos de assessores e parlamentares mais
próximos sobre retoques necessários no comportamento eleitoral.
Entre as opções do PSDB, o governador de São Paulo,
João Doria, e o apresentador Luciano Huck precisam fortalecer seus nomes em
meio às classes sociais mais baixas. Enquanto Doria se afasta desse público por
seu estilo de vida luxuoso, Huck tende a reviver as ações midiáticas de seu
programa de tevê — onde muda a vida das pessoas ao reformar casas e oferecer
empregos. Os dois sinalizam, informalmente, a intenção de participar da corrida
eleitoral, mas precisam “popularizar” suas figuras pelos próximos anos, dizem
assessores próximos ao cacique tucano e ao pretenso político.
A ideia de Doria é se tornar mais popular no
Nordeste, que rechaça o estilo de vida da elite paulistana. Huck, cuja vantagem
é ser conhecido nacionalmente, precisa consolidar o discurso social. O
movimento desses possíveis candidatos causa preocupação entre os petistas e
aliados do presidente Jair Bolsonaro, que estuda a possibilidade de concorrer
ao próximo pleito ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio
Moro, ainda tratado como herói nacional após o primeiro ano de governo ao lado
de Bolsonaro.
Um empresário de Brasília, apoiador de Doria, que prefere
não se identificar, diz que, para concorrer ao cargo de presidente, o
governador de São Paulo terá que mudar a imagem que cultivou de homem abastado,
para construir uma imagem de homem do povo. Em São Paulo, segundo explicou o
empresário, existe uma atmosfera de privilégios que condiz com candidatos como
Doria e Geraldo Alckmin, ex-governador do estado.
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Gleisi com Lula em ato político em São Bernardo do Campo, depois que o ex-presidente saiu da prisão(foto: AFP / Miguel Schincariol ) |
Entre os tucanos, é consenso que Doria precisa se
tornar mais popular — com o cuidado de não exagerar. Um assessor do PSDB, que
também pede anonimato, avalia que há muitos candidatos que “saem para o
abraço”, o que não está de acordo com a proposta do partido. Mesmo assim, ele
diz que a avaliação na legenda é a de que o governador precisa de mais
aderência nas camadas sociais afastadas da elite. Ele avalia ainda que o fim do
financiamento privado das campanhas eleitorais complicou para os candidatos
mais abastados e bem relacionados com o poder econômico, como é o caso de
Doria. Outro motivo de preocupação é a falta de coligações em 2022, problema
que já se apresenta este ano, nas eleições municipais de outubro.
O cientista político Enrico Ribeiro, coordenador
legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais,
avalia que o caminho de Huck será mais complicado. “Huck não pode
aparecer como político devido a questões contratuais. Ele vai ter pouco tempo
para se construir como candidato a presidente da República”, diz. “Se vier a se
candidatar, terá que se comportar como um verdadeiro concorrente à Presidência,
e não apenas como um aventureiro. Ele é um empresário muito bom e um
apresentador de TV famoso, mas, na hora que a campanha eleitoral começar a
pegar, ele vai precisar mostrar que é um candidato para valer”, ressalta.
Cabos eleitorais
As eleições municipais podem afetar diretamente a
corrida pelo Planalto, dizem especialistas. Na prática, é provável que a
ideologia de quem dominar as assembleias legislativas e prefeituras acabe
estendida ao governo federal. “Estados e municípios são cabos eleitorais de
presidentes, governadores e congressistas. A expectativa é de que os aliados do
presidente Bolsonaro tenham força, mas também há o lado contrário”, analisa o
professor de Ciência Política Felippo Madeira, da Universidade Estadual de
Goiás (UEG).
Para Felippo, a esquerda e o centro tendem a lutar
pelo espaço perdido para a direita na eleição de Jair Bolsonaro. “Militantes
vão fazer mais barulho nas ruas e na internet para tentar amenizar o resultado
do último pleito”, aposta. Essa possibilidade, acredita, pode fazer com que as
lives do presidente e do primeiro escalão se multipliquem. “É normal buscar
canais de comunicação mais abertos. Isso provavelmente vai acontecer”,
completa.
Sairá fortalecido dessa disputa, prevê Ribeiro, o
grupo que conseguir levar o seu discurso de forma mais direta à base eleitoral
e vencer, sobretudo, em cidades médias e grandes. “Estas eleições não são
apenas para vereador e prefeito. Serão a fundição para que cada partido crie a
base do que vai ser a campanha de 2022. Eles vão provar a capilaridade dos seus
discursos e, em caso de vitória nas urnas, conquistar mais tempo de TV e cotas
de fundo partidário”, explica.
Partido dos Trabalhadores
Apesar de o debate sobre as eleições presidenciais
de 2022 já movimentar o cenário político, formalmente, algumas legendas
preferem se abster de uma análise mais aprofundada. O PT, por exemplo, fala em
priorizar as eleições municipais deste ano e, só depois, construir uma agenda
para concorrer ao Palácio do Planalto. “A nossa proposta é ter candidatos na
maior parte dos municípios possíveis, principalmente nas capitais. Queremos
apresentar nomes e o nosso programa para o desenvolvimento do país”, diz a presidente
nacional da sigla, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).
A parlamentar garante que o PT vai priorizar
candidaturas próprias às prefeituras, mas não descarta a possibilidade de o
partido se aproximar de legendas como PSB, PDT, PSol e PC do B. Com o movimento,
a sigla poderia fortalecer a união entre os partidos de esquerda e
centro-esquerda e, consequentemente, a oposição ao presidente Bolsonaro e aos
demais candidatos, que aderem a um viés de direita ou centro-direita, como
Doria e Huck.
“As eleições municipais de 2020 terão um caráter
nacional muito forte e serão o principal termômetro para o pleito majoritário,
pois o foco da campanha em 2022 será a vida do povo. É impossível desenvolver
políticas municipais no âmbito que as pessoas mais reivindicam, como saúde e
educação, sem financiamento federal. E, hoje, temos uma situação difícil para o
povo brasileiro, que sofre com uma política que não dá respostas”, comenta
Hoffmann. “Isso é o que estará em discussão daqui a dois anos: o quanto essas
candidaturas terão a oferecer. A meu ver, todas estão voltadas para uma
estratégia mais liberal e falam pouco do social”, acrescenta.
Além disso, com o ex-presidente Lula fora da
prisão, a ideia do PT é usar a força da sua liderança política para “conquistar
território” e, a partir de uma eventual suspeição de Moro no caso do triplex do
Guarujá (SP), lançar o nome do ex-presidente para concorrer em 2022. “Nosso
empenho será o de resgatar os direitos políticos de Lula, que será o nosso
candidato. Mas isso vai depender dele”, frisa a deputada. “Temos outros nomes,
claro, como o de Fernando Haddad, que é uma referência importante para a
política nacional. De qualquer forma, queremos passar o processo municipal para
depois discutir 2022”, completa Gleisi.
“Nosso
empenho será resgatar os direitos políticos de Lula, que será o nosso
candidato. Mas isso vai depender dele. Temos outros nomes, como o de Fernando
Haddad, que é uma referência importante para a política nacional. De qualquer
forma, queremos passar o processo municipal para depois discutir 2022”
Gleisi Hoffmann, deputada federal (PR) e presidente do PT
Gleisi Hoffmann, deputada federal (PR) e presidente do PT
“Estas eleições não são apenas para vereador e
prefeito. Serão a fundição para que cada partido crie a base do que vai ser a
campanha de 2022. Eles vão provar a capilaridade dos seus discursos e, em caso
de vitória nas urnas, conquistar mais tempo de TV e cotas de fundo partidário”
Enrico Ribeiro, Cientista
Político
Fonte:
Correio Braziliense