Palácio
do Planalto tenta não interferir na disputa para não atrapalhar a tramitação do
texto, previsto para ser retomado no Congresso em fevereiro
Ministro da Fazenda e presidente da Câmara não escondem mais a disputa pelo mote da campanha de outubro |
A batalha para aprovar a reforma da
Previdência é de todos os integrantes e aliados do governo, mas a definição de
quem é o verdadeiro pai da mudança é uma disputa acirrada entre o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Ambos contam com a aprovação da matéria este ano para melhorar a visão do
mercado sobre eles, de olho em apoio para uma eventual candidatura à
presidência da República.
Possíveis presidenciáveis, Maia e Meirelles
disputam, com o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o mesmo
eleitorado: de centro-direta. Enquanto o tucano aposta em uma agenda voltada
para emprego e renda, com um tom mais social, os outros dois precisam decidir
quem fica com a pauta reformista, defendida por ambos. Levar à disputa
eleitoral a mesma pauta, em especial uma de peso como a reforma da Previdência,
dividiria os votos e pulverizaria a eleição, cenário que fortaleceria os outros
candidatos e minaria as chances dos candidatos de centro-direita.
“Maia
e Meirelles são iguais, têm a mesma agenda, que é a das reformas. Ninguém vai
abrir mão do tema, mas é bom lembrar que
filho de dois pais pode não ser filho
de ninguém”, brinca o coordenador do Núcleo de Análise Política (NAP) da
Prospectiva Macropolítica, Thiago Vidal.
Na escolha entre um e outro, é difícil
avaliar quem tem mais chances de emplacar uma candidatura com esse mote caso a
reforma passe no Congresso Nacional. Na opinião do diretor do Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz,
Meirelles tem um trânsito melhor que Maia com o mercado financeiro, “o problema
é que ele não tem um partido que dê a ele o mesmo apoio que teria o presidente
da Câmama”. Ele considera que seria menos prejudicial para Maia do que para o
ministro se a reforma não passasse, porque o deputado continuaria com forte
apoio no partido e bom trânsito entre os parlamentares.
O Planalto garante que não quer se envolver
na briga cada vez mais explícita entre Maia e Meirelles. Mas acaba sendo
obrigado a intervir para aparar as arestas, como teve de fazer ontem o
residente Michel Temer, ao chamar Maia para uma conversa para tratar da
Previdência. A grande preocupação do governo é de que os atritos contaminem os
debates sobre a mudança nas regras da aposentadoria.
Temer está buscando se preservar para não se
meter diretamente na disputa entre os dois, embora aliados o tenham alertado há
tempos. Maia e Meirelles estão interessados em se cacifar, a partir da
aprovação da reforma. O presidente da Câmara, por apresentar-se como o
articulador político para a votação da reforma. O chefe da Fazenda, por ser o
condutor da retomada do crescimento e disposto a encerrar a passagem pela pasta
aprovando uma matéria que desafogará as contas públicas pelos próximos anos.
Embate
O mais recente embate entre os dois deu-se em
torno da chamada regra de ouro, dispositivo constitucional que impede que o
governo faça dívidas para pagar despesas
correntes. Na semana passada, o democrata afirmou que essa regra deveria ser
alterada
para evitar a explosão das contas públicas e
manter o nível de gastos em 2019. “Não precisa mudar a regra, mas suspender por
algum tempo algumas restrições”, afirmou. Ao ser questionado sobre quais
restrições, e por qual período, ele jogou a responsabilidade
para o Executivo. “Esta é uma decisão do
governo”, esquivou-se, destacando que “os dados estão claros”.
Meirelles, no entanto, se posicionou
enfaticamente contrário à ideia. “Existe, de fato, uma proposta de suspender a
regra de ouro
por alguns anos. Eu não gosto dessa proposta,
não aprovo. Eu acho que nós precisamos criar mecanismos que sejam
autorreguláveis”,
disse o ministro da Fazenda, que acabou
vencendo a queda de braço. Mas a disputa política segue desigual.
Maia alinhavou uma aliança com o PP, de Ciro
Nogueira (PI).Indicou Alexandre Baldy para o Ministério das Cidades na vaga
pepista. Amigo pessoal do novo ministro, acertou com ele a saída do
Podemos e a filiação ao PP, algo que ainda não aconteceu. O presidente da
Câmara também é muito próximo da Força Sindical. Como mostrou o Correio na
sexta-feira, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP) deixou o braço sindical que
comanda aberto para apoiar uma candidatura do democrata ao Planalto.
Um aliado de Temer adverte que é preciso
ligar o alerta à disputa entre os presidenciáveis. “Temos de ficar atentos,
porque Maia tem outras vantagens sobre os concorrentes. A começar pelo fato de
não precisar se desincompatibilizar se quiser ser candidato. Além disso, ele
está em uma posição estratégica que lhe dá liberdade para movimentar as peças e
alterar o panorama do jogo”, explicou.
Por isso o cuidado do presidente. Temer ainda
mantém o discurso de que, no auge da crise política, quando foi obrigado a
derrotar, na Câmara, duas denúncias que pesavam contra ele, o democrata foi
essencial para manter o governo vivo. Mas reconhece que o aliado está ganhando
voo próprio. Em entrevista ao O Globo, por exemplo, Maia afirmou que, “se é
cogitado (para uma candidatura presidencial), é porque há uma avenida aberta”,
disse.
O chefe da Fazenda, por outro lado, está
sendo acompanhado de perto pelo marqueteiro do PMDB, Elsinho Mouco.Meirelles foi
orientado nagravações para a propaganda do PSD — da qual foi a principal
estrela — e nas inserções partidárias, nas quais defende que o Brasil retomou o
caminho do crescimento e que não aceita mais saídas populistas.
Fonte: Correio Braziliense