quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Com esquema de boletos falsos, mais de R$ 3,5 mi foram desviados do BRB

Entre os suspeitos está o candidato a deputado distrital nas eleições de 2014, pelo PPS, Luiz Carlos dos Reis, conhecido como Iti




Duas pessoas foram presas, ontem, por agentes da DRF. Outros 37 mandados de prisão foram expedidos

Um esquema milionário contra o Banco de Brasília (BRB) foi desmontado pela Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na manhã de ontem. Os desvios somam mais de R$ 3,5 milhões e os integrantes do esquema usavam a emissão e o pagamento de boletos falsos para conseguir o objetivo. Entre os suspeitos está o candidato a deputado distrital nas eleições de 2014, pelo PPS, Luiz Carlos dos Reis, conhecido como Iti. Empresário do ramo de postos de combustíveis, ele e o irmão José Carlos dos Reis são apontados como os principais beneficiários do esquema. Os dois foram presos.

A operação batizada de Reves foi deflagrada na manhã de ontem, autorizada pela 2ª Vara Criminal do Gama, que decretou a prisão temporária de 37 envolvidos. A Justiça também determinou a busca e apreensão nas residências e empresas dos suspeitos de faturarem com os crimes praticados contra o BRB. Para chegar até eles, a polícia utilizou escutas telefônicas e fez comparação de documentos. Durante todo o dia de ontem, o delegado responsável pelo caso, Fernando Cesar Costa, chefe da DRF, fez oitivas de acusados e testemunhas.

A fraude ocorreu em um posto de conveniência bancária do BRB, dentro de uma loja de produtos automotivos chamada Gama Latas, na região administrativa do Gama. Segundo as investigações, a ação criminosa durou cerca
de 12 horas, entre 8h30 e 18h30, em 19 de fevereiro. Documentos da polícia apontam a existência de uma “verdadeira organização criminosa, constituída para fraudar o BRB”.

As investigações apontam que o esquema funcionou da seguinte forma: um funcionário fantasma, que utilizava o registro civil de uma vítima de roubo, autorizava as transações irregulares no correspondente bancário. Ele fez 22 depósitos para diferentes empresas e pessoas físicas, em um total de R$ 102.100. Além disso, pagou, com recursos do BRB, boletos falsos em benefício de várias empresas, entre as quais postos de combustíveis, distribuidora de alimentos, companhia de serviços aeroportuários de transporte e agências de turismo. A DRF contabilizou R$ 3,38 milhões em pagamentos. Iti e o irmão José Carlos seriam donos de firmas que emitiram e receberam os valores dos boletos.

A fraude chamou a atenção dos investigadores e de auditores do banco, porque o volume de recursos das transações era considerado incompatível com o movimento diário do posto de conveniência no Gama. O empresário Ramon Carvalho Maurício e os dois filhos também são citados no inquérito policial. Eles são os proprietários do correspondente bancário onde a fraude foi executada. Os três tiveram prisão temporária decretada. O esquema também chamou a atenção da funcionária do escritório que acompanhava a contabilidade da Gama Latas.

Na tentativa de disfarçar a transação criminosa, o grupo distribuiu os pagamentos entre várias empresas. A capilarização dos pagamentos também ajudou a burlar os limites diários das operações permitidas pelo BRB. Por exemplo, para pagamento de boletos, o teto permitido era de R$ 5 mil. À empresa de serviços aeroportuários foram pagos dez boletos no valor de R$ 4.990. Os documentos foram emitidos no dia 18 de fevereiro, com vencimento para o dia seguinte, data em que o golpe foi executado. A rapidez do vencimento também levantou suspeita.

Durante os depoimentos, muitos dos suspeitos colaboraram com a investigação, fornecendo informações esclarecedoras. Em favor desses, a DRF representou pela revogação da prisão temporária de todos os envolvidos que ajudaram na elucidação dos crimes. Nas oitivas, foi possível apontar também a participação de um outro suspeito, cuja prisão foi requerida pela Polícia Civil.

O Correio tentou contato com todos envolvidos citados nesta reportagem, por meio dos respectivos advogados.  A Gama Latas e um dos postos de combustíveis citados na investigação também foram procurados. Ninguém atendeu. O BRB também foi procurado, mas preferiu não se manifestar.

* Colaborou Otávio Augusto



Perfil
» Baiano, morador da Asa Sul, Iti é dono de dois postos de combustíveis, entre eles o Iticar, no Aeroporto Internacional de Brasília. Ele foi candidato a deputado distrital em 2010 e 2014. Declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 6,6 milhões. Iti não se elegeu. Em 2010, concorreu à Câmara Legislativa pelo PHS. Nas últimas eleições, disputou pelo PPS e teve 4.576 votos. À Justiça Eleitoral, Iti declarou vários bens localizados na região administrativa do Gama.


Fonte: Correio Braziliense