Dois evangélicos promovem um
curso para "tratar aqueles que desejam voltar ao padrão de Deus".
Após denúncias, foram intimados a dar explicações ao Ministério Público do DF,
que não viu ato ilícito. Lideranças gays protestam
O cartaz não poderia ser mais claro. Em letras legíveis, estampa:
“Homossexualismo: ajudando, biblicamente, a prevenir e tratar aqueles que
desejam voltar ao padrão de Deus para sua sexualidade”. Trata-se da divulgação
de um curso promovido pela Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares e
ministrado pelo pastor Airton Williams e o especialista em políticas públicas
Claudemiro Soares, autor de um livro sobre o assunto, Homossexualidade
masculina: escolha ou destino?, em que relata como é possível a mudança da
orientação sexual.
O convite levou a uma denúncia no Disque 100, canal da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República. Em uma rede social, o deputado federal
Jean Wyllys assumiu a autoria de uma das reclamações por
meio de mensagem
publicada em uma rede social. Os protestos contra a promoção da chamada “cura
gay” chegaram ao promotor e coordenador do Núcleo de Enfrentamento à
Discriminação do Ministério Público do DF e Territórios, Thiago Pierobon.
Intimados a depor, os evangélicos Airton e Claudemiro alegaram que o curso é
voltado para líderes de igrejas que encontram dificuldades em abordar o tema
com os fiéis. Nele, os religiosos aprendem como lidar com seguidores
homoafetivos. Eles garantiram que não existe discriminação nas palestras e que
todos são orientados a acolher os homossexuais. Convenceram o promotor, mas não
os representantes de grupos LGBT.
“Há discriminação nesse curso, sim. O Ministério Público do DF deveria abrir um
processo. Prometer cura é charlatanismo. Isso está no Código Civil. Não se cura
heterossexual, portanto, não se cura homossexual. É uma inversão dos valores.
Deveria haver uma investigação mais profunda sobre o conteúdo desse curso,
quais as ligações com os setores conservadores da sociedade. Esse pessoal está
indo de encontro com a comunidade científica. Há muito tempo já se sabe que não
se trata de uma patologia e, portanto, não há cura. Esse curso está formando
multiplicadores dessa ideia”, revolta-se Evaldo Amorim, diretor do Elos LGBT.
Jacinta Fonte, coordenadora do grupo de pais e mães LGBT do Elos, reforça:
“Discordo totalmente de não haver processo. Repudio quem acha que homossexuais
precisam de algum tipo de terapia, não admito.”
Para o promotor Thiago Pierobon, não existe violação no curso, já que não há
provas de discriminação ou de violação aos direitos humanos e que o Estado não
tem o direito de interferir em cultos ou discussões religiosas. Oficialmente, o
MPDFT alegou que “não é possível proibir as pessoas de, no âmbito de sua
liberdade de religião, discutirem temas ligados à sua concepção de correção dos
comportamentos sexuais nem de proibi-las de conversarem com pessoas sobre tais
temas. Se a abordagem a uma pessoa ocorrer com constrangimento ou exposição ao
ridículo, certamente haverá a discriminação, ato ilícito não tolerado pelo
Estado”.
O pastor Airton Williams disse ao Correio que o curso é um aconselhamento
bíblico que aborda o “homossexualismo” de acordo com os ensinamentos de Deus.
Ele acrescentou que ninguém é constrangido a participar dele ou dos
aconselhamentos. “Acolhemos e ajudamos os homossexuais que chegam até nós
afirmando que estão cansados dessa vida”, detalhou.
Fonte:
Correio Braziliense