Aécio Neves deixou de ser tucano
Na versão
política, tucano é uma ave que, apesar do bico grande, bica com delicadeza. É
capaz de perder a vida para não perder a elegância. Foi assim, por exemplo, com
Serra no primeiro debate do 2º turno contra Dilma em 2010...
De certa
forma foi assim também com Aécio no debate da última terça-feira contra Dilma
na Rede Bandeirantes de Televisão.
Quem
imaginou que ele, ontem, no debate do SBT, ofereceria a outra face para
apanhar, enganou-se.
O instinto
de sobrevivência empurrou Aécio para cima de
Dilma, e dessa vez foi ela que não
estava preparada para enfrentar tamanha fúria.
Marqueteiros
costumam dizer que o eleitor detesta troca de ataques entre candidatos. Lorota.
O eleitor
diz que detesta para aparecer bem na foto – mas ela gosta de ataques, sim. Os
ataques só não podem resultar em baixarias.
Se alguém
quase se rendeu a baixarias foi Dilma quando tentou aplicar uma pegadinha em
Aécio. Perguntou o que ele achava da lei que pune motoristas que dirijam
bêbados ou drogados.
Uma vez, no
Rio, Aécio foi surpreendido por uma blitz da Lei Seca. E se recusou a fazer o
teste do bafômetro.
Se Dilma
sabe que ele estava bêbado ou drogado deveria ter dito. É uma grave acusação
que não pode apenas ser insinuada. Ela preferiu insinuar. Leviandade.
No debate da
Band, Dilma impôs a Aécio sua agenda de discussão. Acuou-o com perguntas sobre
o governo dele em Minas. Aécio saiu derrotado.
No debate do
SBT, Aécio impôs sua agenda. E rebateu os ataques de Dilma com calma, lógica e
argumentos bem pensados. Foi impiedoso.
Dilma voltou
a perguntar pelos parentes que Aécio empregou no governo de Minas. Aécio
respondeu sobre apenas um deles – sua irmã, Andrea, que trabalhou no governo
sem nada ganhar.
Em seguida,
Aécio perguntou a Dilma pelo irmão dela, “que ganha sem trabalhar” da
prefeitura de Belo Horizonte. Dilma fugiu da resposta. E começou a falar em
"dilmês"
Aécio
carimbou na testa de Dilma que ela não conhece direito Minas Gerais. Dilma
passou recibo da acusação.
O debate
acabou com Dilma nocauteada. Não é força de expressão.
Desorientada,
como se não soubesse direito onde estava e o que lhe aconteceu, Dilma perdeu a
voz ao responder à pergunta de uma repórter do SBT. Esqueceu que estava ao
vivo. E, aparentemente grogue, pediu para recomeçar.
Não
conseguiu. Alegou então que estava passando mal. Uma queda de pressão. Foi
socorrida com um copo de água. Arranjaram-lhe uma cadeira.
Quis voltar
à responder à repórter. Como seu tempo acabara, se irritou com ela. Chamou-a de
"minha querida".
Desfecho
perfeito para uma luta que perdeu.
Fonte: Blog do RICARDO
NOBLAT. Foto: O Globo - 17/10/2014