quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

PF reduziu operações contra corrupção nos últimos anos

Relatório da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) informa que a PF reduziu drasticamente as operações de combate à corrupção nos últimos anos. O documento aponta queda significativa em investigações dos crimes de peculato, concussão, emprego irregular dè yerba pública, formação de quadrilhà ervagem de dinheiro, entre outros crimes que, em linhas gerais, indicam malversação de recursos públicos. O total de indiciamentos nesses crimes caiu de 10.164, em 2007, para 1.472, em 2013 — uma redução de 86%.

— A PF não está fazendo o mínimo de operações e prisões que fazia há sete anos. A PF está passando por uma crise que pode levar até à sua extinção — criticou Jones Leal, presidente da Fenapef.

O relatório da entidade mostra queda acentuada das operações de combate à corrupção a partir de 2007, quando o delegado Luiz Fernando Corrêa assumiu a direção da PF em substituição a Paulo Lacerda. A baixa produção se prolongou na
administração do atual diretor, Leandro Daiello, que está no cargo desde o início do governo Dilma.

Pelos dados da Fenapef, em 2010 a PF indiciou 3.874 pessoas por formação de quadrilha,771 por peculato, 9 por emprego irregular de verba pública, 99 por concussão (cobrança de propina), 367 por corrupção passiva, 1.201 por crime contra o sistema financeiro e 456 por lavagem. Naquele ano, a PF também indiciou 704 prefeitos por crime de responsabilidade.

O desempenho, que já não era dos melhores, piorou se comparado com as estatísticas deste ano. De janeiro até o fim de novembro, data do levantamento, a PF indiciou 759 pessoas por formação de quadrilha, 185 por peculato, uma por emprego irregular de verbas públicas, 14 por concussão, 78 por corrupção passiva e 123 por lavagem. Nestes 11 meses, 102 prefeitos foram indiciados por crime de responsabilidade.

A Fenapef fez o levantamento com base em dados do Sistema Nacional de Informações Criminais, abastecido com registros da própria polícia. São informações oficiais que servem de base a decisões judiciais e à emissão de certidão de antecedentes criminais. O GLOBO encaminhou os números à direção da PF, por intermédio da assessoria de imprensa, na segunda-feira. Mas a instituição não se manifestou.

Segundo a Fenapef, o govemo e a direção da PF tentam mascarar o baixo desempenho com a deflagração precipitada de grandes operações. A manobra daria a falsa impressão de que a instituição está funcionando com toda sua capacidade operacional, e que as queixas contra a baixa produção seriam improcedentes. A precipitação das operações diminuiria o impacto político de algumas investigações.

— O governo diz que a PF está fazendo um trabalho de qualidade, com muitas operações. Mas não é verdade — lamentou Leal.

A Fenapef é formada por agentes, escrivães e papiloscopistas. O documento foi produzido em meio à guerra entre integrantes das três categorias, em campanha salarial, e a cúpula da PF. Os servidores querem reajustes na remuneração e ocupação de cargos que, hoje, são reservados a delegados e, em, menor número, a peritos. No mês passado, o governo chegou a repetir a oferta de reajuste escalonado de 15,8%. Mas a proposta foi rejeitada.

Os agentes dizem que o reajuste parcelado resultaria num aumento de pouco mais de R$ 200 por ano. Para eles, se aceitassem essa proposta, os policiais teriam poucas vantagens materiais. Leal diz que o clima na PF é péssimo, e que os agentes vão continuar fazendo protestos ao longo de 2014, ano da Copa do Mundo. A estratégia é promover paralisações pontuais e fazer manifestações em aeroportos.

Números
10.164
INDICIAMENTOS
Foram feitos pela PF em 2007 em crimes que indicam malversação de verba pública
1.472
INDICIAMENTOS
Nos mesmos crimes foram feitos pela PF em 2013 (uma redução de 86%)
3.874
PESSOAS
Foram indiciadas pela PF por formação de quadrilha em 2010
759
PESSOAS
Foram indiciadas pelo mesmo crime em 2013 (até ofim de novembro)
367
PESSOAS
Foram indiciadas pelo crime de corrupção passiva em 2010
78
PESSOAS
Foram indiciadas pelo mesmo crime em 2013 (até o fim de novembro)

Fonte: O Globo