sexta-feira, 12 de julho de 2013

Estevão nega depósito de US$ 1 mi

Ex-senador se defende da acusação de ter transferido recursos para uma conta na Suíça do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto

"Em relação à essa remessa de US$ 1 milhão, sou totalmente inocente. Isso é um despropósito. Não sou eu que me declaro inocente, são os documentos”
Luiz Estevão, ex-senador

Acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter depositado US$ 1 milhão nas contas do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, o ex-senador Luiz Estevão negou ontem que seja responsável pelo dinheiro. Ele apresentou ao Correio documentos de uma ação movida nos Estados Unidos contra o Delta Bank, instituição bancária da conta em que os recursos supostamente estavam, e o resultado de uma perícia particular — essa análise atesta que os documentos usados pelo MPF são falsos. Luiz Estevão e Nicolau dos Santos Neto são acusados do desvio de R$ 169 milhões da construção do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, em caso que veio à tona em 1999.

Na ação, movida em 2001 pelo ex-senador contra o banco
norte-americano, Luiz Estevão pede que a instituição autentique todos os documentos usados pelo Ministério Público no processo que o acusa de ter feito as transferências à conta que o ex-juiz mantinha na Suíca. Depois de transitado em julgado nos EUA, o banco enviou uma carta ao procurador Joseph A. Capone, responsável pelo caso, no qual reconhece que três papéis não eram “precisamente duplicatas dos documentos originais do Delta Bank”: a autorização à ordem de pagamento de R$ 960 mil, a outra, de R$ 40 mil, e um terceiro referente ao cadastro da conta chamada James Tower. Nesse último, o banco afirma que a assinatura de Luiz Estevão não era verdadeira. ...

O ex-senador também apresentou as conclusões de uma perícia particular, do Instituto Del Picchia, que atesta a falsidade de faxes. No primeiro deles, referente à transferência de US$ 960 mil (US$ 713 mil de uma conta e US$ 247 mil de outra), o registro referente à máquina de fax indica que o pedido foi enviado em 11 de abril de 1994, às 11h39. Mas um carimbo de protocolo do banco acusa o recebimento em março do mesmo ano, ou seja, antes da remessa. A perícia aponta também que a máquina de datilografar usada para escrever o fax é a mesma utilizada pelo banco, nos Estados Unidos.

No segundo fax, referente à transferência de US$ 40 mil, há um trecho escrito à mão, indicando de qual fundo deveria ser retirada a quantia. Segundo a perícia, a mesma caligrafia é utilizada para preencher, um pouco mais abaixo, um protocolo interno do banco americano. “Em relação à essa remessa de US$ 1 milhão, sou totalmente inocente. Isso é um despropósito. Não sou eu que me declaro inocente, são os documentos”, afirmou Luiz Estevão ao Correio. O jornal O Estado de S. Paulo publicou ontem que a quantia de US$ 1 milhão dos US$ 4,8 milhões repatriados para o Brasil esta semana havia sido depositada na conta de Nicolau dos Santos Neto pelo ex-senador.

O ex-juiz está detido em um presídio em Tremembé (SP). Em 2012, Estevão fez um acordo com a União para pagar, em parcelas mensais de R$ 4,3 milhões, R$ 468 milhões para ressarcir o erário devido aos desvios na obra do TRT-SP.

Por Juliana Braga
Fonte: Correio Braziliense - 12/07/2013