Abalado por escândalos de corrupção e pela execração
pública de seus principais líderes, até mesmo do ex-presidente Lula, o comando
do PT está numa encruzilhada para permitir uma ampla renovação de quadros,
capaz de levar adiante o projeto traçado há uma década para que a legenda
permanecesse 20 anos no poder.
O julgamento do mensalão
abalou a autoconfiança do PT. Apesar de destacarem sempre a diminuição da
pobreza e da desigualdade como marcos da gestão petista, no campo político,
alguns de seus principais dirigentes fazem um
balanço ligeiramente envergonhado
do período. O partido, que chegou ao Planalto com o discurso da ética, fez
alianças heterodoxas, com políticos como José Sarney (PMDB-AP) e Fernando
Collor (PTB-AL), e adotou práticas como o “toma lá da cá” com aliados.
— Nestes dez anos de governo,
acho que a gente surpreendeu na gestão positivamente, e na política no sentido
contrário. Todo mundo apostava que o PT seria muito bom na política e tinha o
pé atrás com relação à gestão. E o PT fez uma gestão muito eficiente na
economia, com inclusão social e colocou o Brasil como referência de país que
cresce incluindo. Por outro lado, nossos maiores problemas foram na política,
onde todos achavam que o PT seria infalível — avalia o senador Jorge Viana (PT-AC).
O desafio imediato do PT será
debater internamente sobre como reagir às condenações de importantes figuras do
partido no julgamento do mensalão. Líder do governo na Câmara, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), afirma que, apesar de a maioria no partido respeitar a
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), é preciso enfrentar o debate e,
paralelamente, encontrar uma agenda propositiva.
— Há uma disputa política em
torno ao mensalão, de que o PT não tem como fugir. Há aqueles que consideram
que houve um desgaste no partido, que as condenações já estavam previstas, mas
outra coisa é transformar esse assunto em pauta única. Isso acho que seria um
erro — diz Chinaglia.
Haddad pregou mudança
Para Chinaglia, o PT não
precisa renovar integralmente seus quadros ou renegar o passado:
— Você acha que a vitória de
figuras importantes, inclusive a de Haddad em São Paulo, se deu sem o apoio de
figuras históricas? Basta ver o caso do Lula. Nem o velho significa ter
envolvimento com qualquer coisa, nem o novo é garantia de qualidade. Tem carro
zero que não funciona — afirma.
Mas o próprio Haddad disse
recentemente, antes de assumir a prefeitura de São Paulo, que os partidos,
incluindo o PT, estão na hora de trocar dirigentes:
— Há uma questão geracional
no país, uma mudança de comando, que aconteceu antes no Nordeste e vai
acontecer em todos os lugares. Essa geração que cumpriu o papel de
redemocratizar o país está passando o comando para uma nova geração. E isso
está ocorrendo naturalmente — disse Haddad, frisando que o julgamento do
mensalão deve ser acatado pelo PT.
Único remanescente no governo
do grupo que comandou toda a campanha de Dilma Rousseff, o ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, diz que o governo falhou na relação com o Congresso ao
não levar adiante a reforma política. Para Cardozo, o sistema
político-partidário brasileiro é retrógrado e prejudicial à sociedade. Para
ele, nem o julgamento do mensalão atrapalha o projeto de poder do PT, uma vez
que o eleitor entende que o caso envolveu petistas e não o partido, como
apontariam pesquisas.
— O PT ficou refém do status
quo, a única alternativa (que teve) foi reproduzir o modelo do PSDB e pagou um
preço altíssimo, que foi o mensalão — completa Jorge Viana. Informações de O
Globo.
Fonte: Carlos
Honorato