Wellington Diniz assaltou, foi
acusado de assassinatos, preso, torturado, exilado e produziu filmes. Ele fala
às vésperas de ser julgado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça
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O guerrilheiro rompe o silêncio, em entrevista exclusiva |
Quem observa o senhor franzino, de
66 anos, morador do Bairro Carmo, em Sete Lagoas, é incapaz de imaginar o peso
da história que ele carrega. Wellington Moreira Diniz lutou contra a ditadura
militar no Brasil, participou de ações armadas em bancos e quartéis para
abastecer organizações como Colina, Var-Palmares e VPR com armas e dinheiro;
foi responsável pela segurança do ícone da resistência, o capitão Carlos
Lamarca, e presenciou a jovem Dilma Rousseff, então com 21 anos, discutir
asperamente com Lamarca.
Fez, ainda, parte do grupo que roubou US$ 2,598 milhões (R$ 15 milhões, atualmente) do cofre da amante do político Adhemar de Barros; foi preso e cruelmente torturado, depois libertado em troca do
Até a quarta-feira da semana passada, Wellington nunca havia contado sua trajetória. Em um depoimento de quase três horas, ele revelou ao Correio/Estado de Minas detalhes da sua biografia. Acusado de 38 assaltos, entre bancos, quartéis e automóveis, e de ter matado 12 pessoas em ações de resistência à ditadura, ele será julgado na próxima sexta-feira (24) pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. O deputado federal e ex-ministro dos Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT-MG) será o relator do processo de Wellington e destaca: %u201CA anistia não discrimina luta armada e luta pacífica. Em uma situação de ditadura é considerado lícito que os militantes peguem em armas%u201D.
%u201CSe eu era bravo? Bravo é boi. Eu seguia as necessidades do momento%u201D, entende Wellington. A ficha do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão do Exército à época, imputa-lhe 38 ações, mas ele garante ter participado de 45. Sobre as 12 mortes de que é acusado, garante não ser realidade. %u201CEu sempre atirei para cima. Se alguém trombou na bala não é problema meu%u201D, ironiza. Um dos apelidos que recebia dos companheiros e também dos militares era 90. Uma alusão às duas pistolas .45 que sempre carregava na cintura, durante as ações. Outro apelido %u2014 que ele não gosta, aliás %u2014 era: %u201CJohn Wayne da guerrilha%u201D. %u201CIsso é folclore%u201D, rebate.
Distante da época elétrica, Wellington recita sua vida como se estivesse contando para si próprio, sobre quando vivia entre um aparelho e outro. Chegou a assaltar três bancos no mesmo dia, sendo um no Rio de Janeiro e outros dois em São Paulo. Em quase três horas de depoimento fumou 18 cigarros, bebeu mais de uma garrafa de café %u2014 sem açúcar %u2014 e fez longas pausas. %u201CExistem as pessoas que passam pela história e as pessoas que fazem a história. Foi uma opção de vida fazer história%u201D, atesta, deixando o cigarro queimar até o filtro.
"Teve um embate e eu estava presente. Dilma tinha a convicção dela, que era uma visão mais antimilitar. E nós tínhamos uma visão mais militar. Dilma acusou o Lamarca de não ter sustentação teórica. Houve tensão, as discussões foram sérias, mas nunca chegou às vias de fato.%u201D.
Fontes: Correio Brasiliense