Parlamentares querem apuração de fatos relatados em depoimento. DEM e PSDB cobram esclarecimento de suposto pagamento a Lula.
Deputados e senadores da
oposição protocolaram na tarde desta quarta-feira (12), na Procuradoria-Geral
da República (PGR), uma representação solicitando que a instituição investigue
os fatos relatados por Marcos Valério Fernandes de Souza em depoimento
prestado em setembro.
Reportagem
publicada na edição desta terça (11) do jornal “O Estado de S. Paulo” revelou
detalhes do depoimento do operador do esquema do mensalão. Na conversa de três
horas e meia com os procuradores da República, Valério afirmou que
teria pago
despesas pessoais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que teria sido ameaçado de morte.
Condenado a
mais de 40 anos de prisão, Valério disse ainda que o ex-presidente deu o
"ok" para os empréstimos dos bancos Rural e BMG para o PT com a
finalidade de viabilizar o mensalão (pagamento a parlamentares para aprovar
projetos de interesse do governo).
Em novembro,
PSDB e PPS já haviam protocolado pedido de
investigação assim
que as primeiras notícias sobre o novo depoimento de Valério foram divulgadas.
Nesta terça (11), PSDB e DEM cobraram
acesso à íntegra do depoimento de
Valério.
O pedido de
investigação protocolado nesta quarta (12) toma como base o conteúdo do
depoimento, revelado pelo "Estado de S. Paulo". Compareceram à
sede do Ministério Público em Brasília os senadores Agripino Maia (DEM-RN),
Álvaro Dias (PSDB-PR), Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Vanderlei Macris (PSDB-SP).
Os
parlamentares oposicionistas cobram a apuração da suposta participação de Lula
com o esquema de compra de votos parlamentares em troca de apoio político no
Congresso. No documento protocolado nesta tarde, os deputados e senadores de
DEM e PSDB enfatizam que o principal ponto a ser esclarecido pelo MP é o
suposto depósito feito por Valério na conta de um ex-assessor de Lula.
O operador do
mensalão disse no depoimento, conforme o "Estado de S. Paulo", que
ele teria repassado R$ 100 mil para despesas pessoais do ex-presidente, por
meio da empresa Caso, de Freud Godoy, então assessor da Presidência da
República.
A CPI dos
Correios comprovou o recebimento de depósito de R$ 98,5 mil de Marcos Valério
para a empresa Caso, segundo a reportagem do jornal. Ao investigar o mensalão,
a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, a agência
de publicidade de Valério, à empresa de Godoy. O depósito foi feito, segundo dados
do sigilo quebrado pela comissão, em 21 de janeiro de 2003.
Em
viagem a Paris, onde participou nesta terça de um evento bilateral entre Brasil
e França, o ex-presidente Lula não quis comentar as acusações feitas por Marcos
Valério. "Não posso acreditar em mentiras", disse Lula após a
abertura do Fórum pelo Progresso Social, conferência organizada pelo Instituto
Lula e pela fundação francesa Jean Jaurès.
O líder do
PSDB no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), afirmou nesta terça que vai protocolar
convite para que Marcos Valério dê explicações na Casa sobre o recente
depoimento.
“Vamos criar
o fato político no Congresso. Ouvir Marcos Valério é propor transparência, é
colocar todo o fato à luz, para que a sociedade possa dele tomar conhecimento”,
disse Álvaro Dias.
Nesta terça,
o senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou como “graves” as
declarações de Marcos Valério e defendeu investigação pela Procuradoria-Geral
da República.
“[São]
graves, na direção daquilo que a imprensa já havia publicado. Cabe a meu ver a
PGR analisar que procedimentos tomará em seguida, se há novos indícios que
possam modificar sua posição”, disse.