Vale repetir o provérbio
árabe: bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. Adianta pouco lembrar que
a sucessão presidencial está marcada para outubro de 2014, porque
faltando dois dias para 2013 começar, a questão já se coloca nos partidos, no Congresso,
na imprensa e nas representações da sociedade civil. Fica sozinha a presidente
Dilma Rouseff, a se dar crédito ao seu comentário de que não se pensa em
sucessão no meio de um mandato. Porque será humanamente impossível supor
que ela também não pense, dispondo da prerrogativa constitucional da
reeleição.
Sendo
assim, importa buscar os contornos desse quadro já posto em exibição,
mesmo sujeito a alterações nas cores e na forma. ...
Começando pela própria: com os índices de popularidade que
detém, se
permanecerem, Dilma ocupa a pole-position. É claro que em dois anos tudo pode
mudar, mas se as eleições fossem hoje, ela seria vencedora. Dependendo, é
óbvio de diversas condicionantes, a primeira delas de não sobrevir nenhuma
crise fundamental na economia, desgastando seu governo. Outra, de ser desatado
o nó que aperta o PT, de um lado sujeito às conseqüências do mensalão e
similares. De outro, caso não se avolume entre os companheiros a frustração de
estar no governo mas não ser governo, como há dois anos imaginaram.
Cresce no partido a tendência de que se o Lula voltar em 2014, maiores
horizontes se abrirão para nova etapa do condomínio por ele praticado com o PT
e suspenso pela sucessora. Apesar dos elogios ainda esta semana feitos por ela
ao partido, fica claro que quem governa é ela.Começando pela própria: com os índices de popularidade que
Passa-se
então à segunda hipótese: se o Lula topar sua candidatura, seja para garantir a
vitória, seja por não suportar permanecer no banco, Dilma será a primeira a
apóia-lo. Não hesitará um minuto em ceder a vez a quem a fez
presidente. Apesar dos percalços que se sucedem, o ex-presidente seria
imbatível, ressalvados os imponderáveis.
Do
lado oposto, indicam a lógica e o bom-senso que se os tucanos
rejeitarem Aécio Neves, estarão condenados a transformar-se em urubus. Não
há mais espaço, no PSDB, para candidatos como José Serra, Fernando
Henrique e até Geraldo Alckmin, não obstante o esforço que o grupo paulista
ainda faz para evitar os mineiros. O neto de Tancredo Neves enfrentará
dificuldades profundas, a começar pela supremacia de Dilma ou do Lula, além da
resistência dos caciques de seu próprio partido, mas se recuar estará
confirmando o adágio de que o cavalo só passa uma vez encilhado na
porta de casa. Já fala em libertar-se da sombra do conservadorismo, levantando
a bandeira do desenvolvimento.
As
pesquisas mais recentes fizeram justiça a Marina Silva, que nas simulações
sucessórias perde apenas para Dilma Rousseff. O fato de encontrar-se sem
partido é irrelevante, sempre aparecerá algum interessado nos milhões de votos
que ela obteve nas eleições passadas. Estar bem mais à esquerda do PT e
do governo exprime uma faca de dois gumes, mas é por aí que a ex-ministra do
Meio Ambiente traçará seu roteiro.
O
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, precisa definir-se. Seu
partido, o PSB, cresceu nas eleições municipais e seu nome é cada
vez mais lembrado no Nordeste, como alternativa para a disputa entre
companheiros e tucanos. Hesitará entre sua lealdade ao governo Dilma e o castigo
de ficar quatro anos ao sol e ao sereno. Tem idade para esperar, mas
oportunidade, ninguém sabe. Há quem suponha sua aliança com Aécio Neves, sendo
lançado como vice-presidente, coisa que se prestaria à denominação
de “chapa dos netos”, pois Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes.
Por último, nessa relação inicial, uma incógnita. Joaquim Barbosa pode transformar-se numa lembrança meteórica, daqui a alguns meses, mas hoje estaria classificado como opção viável. Sua atuação no processo do mensalão e na presidência do Supremo Tribunal Federal representa uma lufada de esperança para quantos refugam os políticos profissionais. Melhor aguardar.
RAIOS E APAGÕES
Por último, nessa relação inicial, uma incógnita. Joaquim Barbosa pode transformar-se numa lembrança meteórica, daqui a alguns meses, mas hoje estaria classificado como opção viável. Sua atuação no processo do mensalão e na presidência do Supremo Tribunal Federal representa uma lufada de esperança para quantos refugam os políticos profissionais. Melhor aguardar.
RAIOS E APAGÕES
Com
todo respeito, mas vamos discordar da presidente Dilma quando ela nega a
influência dos raios na sucessão de apagões. Ainda na tarde do dia em que
disse aos jornalistas credenciados no Planalto que raios não
desligam o sistema de distribuição de energia, caiu um enorme, aqui em
Brasília, seguido por uma trovoada para ninguém botar
defeito. Apagou tudo, no Lago Sul, no Plano Piloto e adjacências. Minutos
depois, a luz voltou, mas se o sistema não consegue ser apagado por raios, que
diabo aconteceu?
É
claro que na maioria dos apagões prevalecem as falhas humanas, como enfatizou a
presidente. Seria preciso, até, investigar a coincidência das repetidas
faltas de energia, às vezes atingindo metade do país, com a
iniciativa do governo de baixar o preço das tarifas. Isso cheira a
sabotagem, por parte das empresas que o sociólogo privatizou ...
Por Carlos Chagas
Fonte: Cláudio Humberto - 30/12/2012