Escutas da PF revelam que contraventor pediu cargo a senador e, 12 dias e 7 telefonemas depois, Mônica Vieira foi nomeada
Escutas telefônicas da Polícia Federal revelam que o
senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) intercedeu diretamente junto a seu colega Aécio Neves (PSDB-MG) e arrumou emprego comissionado
no governo de Minas Gerais para uma prima do contraventor Carlos Augusto de
Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Mônica Beatriz Silva Vieira, a
prima de Carlinhos Cachoeira, assumiu em 25 de maio de 2011 o cargo de diretora
regional da Secretaria de Estado de Assistência Social em Uberaba. Do pedido de
Cachoeira a Demóstenes até a nomeação de Mônica bastaram apenas 12 dias e 7
telefonemas. São citados nos grampos o deputado federal Marcos Montes (PSD),
ex-prefeito de Uberaba, e Danilo de Castro, articulador político de Aécio em
seu Estado e o secretário de Governo da gestão Antonio Anastasia (PSDB),
governador de Minas. Eles negam envolvimento na nomeação. A PF monitorou
Cachoeira, a prima dele e Demóstenes na Operação Monte Carlo, que desmantelou esquema de
contravenção, fez ruir a aura de paladino do senador goiano e expôs métodos
supostamente ilícitos da Delta Construções para atingir a supremacia em sua
área.
Professor e Doutor
Aécio não caiu no grampo, porque não é alvo da
investigação. Mas ele é mencionado por Demóstenes e Cachoeira. Nos diálogos, o
contraventor chama Demóstenes de ‘doutor’ e o senador lhe confere o título de
‘professor’.
O
grampo que mostra a ascensão profissional da prima de Cachoeira está sob guarda
do Supremo Tribunal Federal (STF), nos autos que tratam exclusivamente do
conluio de Demóstenes com o contraventor.
Em
13 de maio de 2011, Aécio é citado. Cachoeira pede a Demóstenes para "não
esquecer" o pedido. "É importantíssimo pra mim. Você consegue pôr ela
lá com o Aécio... em Uberaba, pô, a mãe dela morreu. É irmã da minha mãe."
Demóstenes: "Tranquilo. Deixa eu só ligar pro rapaz lá. Deixa eu ligar pra
ele."
A PF avalia que o caso pode caracterizar
tráfico de influência. "Seguem ligações telefônicas, divididas por
investigado, em ordem cronológica, que contêm indícios de possível cometimento
de infração penal por parte de seus interlocutores ou pessoas referidas."
Na síntese que faz da ligação de Cachoeira a Mônica,
a 26 de maio - o contato durou 3 minutos e 47 segundos -, a PF assinala:
"Falam sobre a nomeação de Mônica para a Sedese/MG, conseguida por
Cachoeira junto ao senador Aécio Neves por intermédio do senador Demóstenes
Torres e de Danilo de Castro." As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.